Lazer e terno não combinam, exceto nas propagandas e eventos de turismo no Brasil
Texto: Fabio Steinberg
Uma das questões mais intrigantes do turismo brasileiro é a razão do uso de ternos escuros por líderes ou empresários em todos os eventos que ocorrem no setor. Repare: basta aparecer uma feira ou congresso, ou uma destas premiações às pencas, ou mesmo alguma comemoração, e lá vão eles, trajando solenemente ternos e gravatas.
Esta questão seria menor, não fosse a dissintonia em relação à própria essência do Turismo. Afinal, esta é uma indústria que, apesar de séria, privilegia o lazer e o casual. Portanto, simboliza a antítese do formalismo de trajes praticado por seus representantes. E que no fundo agrada mesmo é aos fabricantes de ternos e gravatas.
O chamado “traje passeio completo” vem gradativamente perdendo sua relevância no universo dos negócios. Tornou-se extemporâneo. Até a sisuda IBM, que no passado tinha funcionários reconhecidos à distância pelos inevitáveis trajes azul marinho, camisa branca e gravata listrada, aboliu este modelo de vestimenta. Hoje, a exemplo de todo setor de tecnologia, predomina o informal, tipo calça social e camisa polo.
Com que roupa eu vou?
Assim como as roupas costumam refletir o estado de espírito dos usuários, também têm a capacidade de influenciar seus comportamentos. Tornam-se assim uma espécie de embalagem de um produto chamado de “gente”.
Em termos de percepção, a aparência fala mais sobre uma pessoa do que o que ela diz ou como age. Ternos têm o potencial de engessar atitudes e cercear movimentos. Até porque, em ambiente tropical como o Brasil, ninguém pode se sentir plenamente confortável com o pescoço espremido por uma gravata e superaquecido por um paletó. Na prática, estes apetrechos podem contribuir para ampliar a rigidez física e mental, e funcionar como freio à criatividade ou inovação.
Uma provável explicação ao uso intensivo dos ternos no turismo brasileiro é a sua histórica dependência de governos. Até pouco tempo, a presença de autoridades em eventos no passado causava frenesi. Obrigava participantes a seguir protocolos e liturgias que hoje perderam a razão de ser.
O Brasil em descompasso
Mesmo com todo o descompasso do Brasil em relação ao mundo, o nosso turismo mal ou bem cresceu e evoluiu. E isto aconteceu quase sempre pelas mãos da iniciativa privada. Neste processo os governos deixaram de ser protagonistas para se tornar figurantes. Na sua vocação atual, devem tão somente apoiar a indústria, jamais operá-la.
Por isto, não faz sentido manter cerimoniais de beija-mão, ou prestigiar autoridades que só fazem discursos e cortam fitas. Isto demonstra subserviência a um poder que que hoje apenas mantém a pompa e circunstância, sem a majestade de outrora.
O turismo brasileiro, debaixo da orientação estatal, vive grave paralisia. Os resultados não mentem. Estancou em torno de seis milhões de estrangeiros por ano. É bem menos que o museu do Louvre recebeu no ano passado. Foram 10,2 milhões de visitantes, dos quais 7,6 milhões internacionais. Ou a Torre Eiffel, com 7 milhões anuais.
Turismo e governo
Associar-se automaticamente às ações do governo pode ser mau negócio. Um exemplo atual é o Plano Nacional de Turismo. Propõe dobrar o número de turistas em quatro anos, mas retira do texto o incentivo ao turismo LGBT. Ou seja, desprestigia um público estimado em 10% dos viajantes do mundo. Além do preconceito inaceitável, está desalinhado à tendência mundial.
O empresariado do turismo precisa se libertar das garras governamentais. Tem maioridade e capacidade para tal. E este esforço começa por abandonar cacoetes comportamentais adquiridos pelo tempo, dos quais o terno é emblemático.
Chegou a hora de menos discursos e sonhos, e assumir o barco – que anda à deriva. Quem duvidar da inoperância governamental, convém contabilizar quantos ministros, secretários estaduais e municipais que o país já teve nos últimos anos – a maioria de uma mediocridade galopante, e que nada fez para mudar as coisas. Enfim, é tempo de despir ternos – junto com o imobilismo e resignação que representam – e ir à luta, em busca de novos tempos para o turismo brasileiro.
Fonte: www.turismosemcensura.com.br
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.