Dia Mundial da Paz, o 1º de janeiro no Brasil poderia também ser o dia da jabuticaba, já que por aqui, bienalmente, são empossados os eleitos no ano anterior. Desta vez, mais de 11 mil prefeitos e vices e 57.736 vereadores, que passam a desenhar o novo – talvez nem tanto – mapa político do Brasil.
Alguns dirão que a posse em 1º de janeiro não é uma invencionice tupiniquim. Na Suíça, o presidente da confederação helvética também assume hoje. Mas por lá se trata de um cargo anual, de escolha indireta, feita por sete conselheiros federais. Em suma, um ato burocrático, nada como o que ocorre no Brasil. Assim como nada na Suíça se parece com o Brasil.
As urnas que elegeram os que agora começam a administrar as cidades e o cotidiano de mais de 200 milhões de brasileiros foram explicitas: praticamente expurgaram o PT, condenaram a corrupção e os políticos profissionais, se renderam aos encantos de quem soube demonizar a política e se apresentar como gestor de sucesso. Os neófitos João Dória (PSDB), em São Paulo, e Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte, são os maiores expoentes dessa equação.
Mas, na aritmética geral, as mudanças foram menores do que pareciam à primeira vista.
Se o PT naufragou — só está assumindo 256 cidades e uma capital, Rio Branco, contra as 630 que detinha em 2012 –, e o PSDB foi o grande vitorioso, ampliando seu poderio para 804 cidades (sete capitais) contra 792 há quatro anos, o PMDB continua líder absoluto. Pulou de 1.015 para 1.027 prefeituras.
E nunca se viram tantos partidos com representações municipais. Só nas capitais, 13 deles estão se sentando na cadeira hoje. Alguns como o PRB de Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, a Rede em Macapá, o PMN em Curitiba, o PPS em Vitória, o PCdoB em Aracaju e o PHS em BH, pela primeira vez.
Mesmo que as pequenas siglas tenham, em boa parte dos casos, se beneficiado do oportunismo de políticos conhecidos, a chegada delas ao poder pode contaminar a discussão das cláusulas de barreira, já aprovadas no Senado. Um desastre anunciado.
A lei, que ainda tem de passar pela Câmara, busca regular a multiplicação endêmica de agremiações políticas que fazem do Brasil o país com o maior número de partidos com representação parlamentar no mundo, segundo pesquisa da Universidade de Gotemburgo, Suécia. Hoje, 35 partidos estão oficialmente registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 27 deles no Congresso Nacional.
Mais grave ainda é não dar ouvidos às mensagens embutidas no voto.
Ainda que no Senado e na Câmara políticos se arvorem em proibir a reeleição, 1.385 prefeitos renovaram seus mandatos, quase 50% dos 2.945 que disputaram um segundo mandato. Nas 26 capitais, dos 20 prefeitos que tentaram só cinco não se reelegeram, provando, mais uma vez, a dessintonia do Congresso com a vontade popular.
Outro recado das urnas, e ainda mais dissonante, é o voto obrigatório, rechaçado pelo eleitor, que faz com que muitos dos que hoje estão sendo empossados tenham tido menos votos do que a soma de abstenção, brancos e nulos.
Além de ir às urnas, em 2016, milhões de brasileiros foram às ruas nas mais gigantescas manifestações já registradas no país. O PT de Lula e Dilma Rousseff quase sumiu do mapa, a crise que já era braba se agudizou.
Mas em passos lentos, ora para frente, ora com recuos, o Brasil começou a se aprumar. O técnico Tite recolocou a seleção canarinho na linha em seis vitórias consecutivas nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018, o Rio de Janeiro e o time Brasil fizeram bonito nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, foi parar na cadeia, Renan Calheiros, Lula e seus asseclas foram denunciados, os acordos espúrios com empreiteiras — Odebrecht à frente — começaram a vir à tona. A Lava-Jato lavou a nossa alma.
Depois de um ano assim, prefeitos, vices e vereadores empossados hoje têm a obrigação de fazer mais do que a promessa formal de “exercer com dedicação e lealdade o mandato, cumprindo as leis e respeitando as instituições”.
Deles se espera isso e a mais singela das obrigações: honestidade. Sem a qual não há ano novo, muito menos um mandato.
Feliz 2017!
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.