29 de março de 2024
Sergio Vaz

A terceira medalha a gente nunca esquece

Uma alegria imensa ver Marina brincando na rua, ocupando sua cidade.

Foto: Mary Zaidan

Marina ganhou hoje a terceira medalha da vida dela. Falei que era a segunda, logo depois que ela desceu do pódio colocado ali na Avenida Sumaré, mas ela me corrigiu: – “A terceira!”
Sim. A primeira foi numa corrida na Lapa, de que ela participou com a mãe, a TriKids, em novembro passado. A segunda medalha foi na natação, na escola nova, mais puxada, pesada, que a primeira – que, exatamente por ser mais puxada, premia os esforços dos meninos.
E esta agora, com vovô e vovó presentes, além da mamãe, foi numa corrida organizada pela Pueri Domus. (Devido ao horário praticamente madrugal, início às 9h da manhã, a presença do papai se tornava impossível.)
A corrida foi no trecho da Sumaré entre a Theodor Herzl e a Ministro Godoy, onde, desde que a avenida foi aberta, em cima do córrego que lhe dá o nome, no início da década de 60, havia um paredão e atrás dele um morro inaproveitável para qualquer tipo de ocupação. Nos últimos meses, esse morro foi sendo escavado, numa obra com toda a aparência de coisa sólida, bem feita, de quem tem muito dinheiro para investir – e semanas atrás se revelou que ali onde era o morro está sendo construída uma nova unidade da escola de ricos.
Pois a Pueri Domus então organizou, com apoio da Subprefeitura da Lapa, um grande evento no domingão de manhã, nas pistas sentido Pinheiros – Barra Funda, junto ao paredão e às obras da nova unidade Perdizes. Começava às 9h30 com corridas para pais e/ou mães e suas crianças – em baterias de crianças de 3 e 4 anos, depois de 5 e 6 anos, e depois de adultos, com trajetos crescentes, começando por 50 metros e indo até 5 km.
Fernanda e Marina participaram do segundo pelotão das crianças de 5 a 6 anos – e, segundo garante a Mary, chegaram em primeiro lugar. Nada assim muito Usain Bolt, já que no pelotão havia apenas uns 5 pares de pais e filhos – mas, diacho, o importante é participar!
E além do mais quem sou eu para desmerecer uma vitória – eu, que só participei na vida de uma corrida/caminhada, alguns meses atrás, no Minhocão, um dos eventos organizados pela Track&Fields, cheguei em bilionésimo lugar e já fiquei orgulhosíssimo por ter conseguido terminar…
Naquela corrida, um evento noturno, Mary ficou muito bem. E Fernanda muito mais ainda, graças, é claro, à idade dela, à força de vontade, que a faz treinar sempre que pode, e à ajuda da Débora, a personal tanto da mamãe quanto da vovó de Marina, nossa medalhista mais linda, mais fofa e mais magrela.
***
Depois do esforço atlético, diversão, uai, que ninguém é de ferro – e Marina se divertiu bastante na área da Sumaré em que a organização do evento botou um monte de colchonetes e grandes almofadas plastificadas e a meninada pulou até ficar exausta. Estava muito alegre, muito soltinha – parecia que estava em casa, ou na esplanada da Super Quadra, que afinal é uma extensão da casa.
E ver aquilo dá neste paulistano de adoção uma grande alegria, de estufar o peito até quase doer: Marina é uma cidadã que ocupa os espaços públicos do bairro dela na metrópole que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim.
Tudo bem: a mãe e o pai da mamãe dela a carregavam para passear pela cidade, pelos parques, pelas praças. A mamãe dela também foi, quando criança, uma paulistaninha que ocupava os espaços públicos, as áreas abertas.
Mesmo assim, mesmo não sendo isso propriamente uma novidade, um ineditismo, ver Marina brincar na rua tantos anos e tanto paranoia com violência urbana depois, ver Marina no meio da Avenida Sumaré dando cambalhota, pulando em diferentes níveis de altura, andando de bicicleta, tão à vontade quanto se estivesse em casa, ah, meu, isso me dá uma grande felicidade.

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