23 de abril de 2024
Walter Navarro

Je t’aime, meu Brasil brasileiro


Pela primeira vez tenho orgulho do Brasil e vergonha de ser jornalista; realmente é a “segunda profissão mais antiga do mundo”. Por isso fui virado; virei “jornalista, cronista de Facebook”.
Aqui, não posso postar nem uma gostosa de calcinha e sutiã (soutien). Basta uma foto de biquíni, bem recheado, para esta merda de Facebook me bloquear por 30 dias. Já perdi as contas de tanto bloqueio, nas três páginas que tenho aqui. Por isso tenho três. Censuram uma ou duas, fico com duas ou uma.
Não posso colocar fotos eróticas, sensuais, muito menos lindamente pornográficas; mas nunca me censuram uma única frase, um único texto. Teoricamente posso escrever o que quiser. Realmente uma imagem vale mais que mil palavras. Por que? Porque raríssimas pessoas leem mais que mil palavras. Só nesta introdução já cheguei a 701.
Então, já que isso aqui é uma masturbação, além de escrever o que quero, escrevo o quanto quero, como eu quero. Só não posso ilustrar como eu gostaria.
Daqui exatamente um mês faço 57 anos de pura travessura. Ano passado, depois de cinco anos, comemorei em Belo Horizonte. Comemorei porque o 9 de outubro estava entre o primeiro e o segundo turno da eleição de Bolsonaro, o primeiro presidente que consegui eleger.
Eu estava muito feliz e continuo 100% Bolsonaro. Quem não gostar dele, pode parar por aqui e retomar uma atividade normal. Todavia, este texto não é sobre Bolsonaro, mas uma tardia declaração de amor ao Brasil.
Dia 7, alguém me mandou um clipe da gravação de “Eu te amo meu Brasil, eu te amo. Meu coração é verde, amarelo, branco, azul-anil”, com Os Incríveis, em 1970.
Em 1970, ano do Tri, aos 8 anos, eu era tão ingênuo quanto o nome Os Incríveis e a letra de “Eu te amo, meu Brasil”.
Com o passar proustiano do tempo e a sensação de desperdício; com a eterna maldição de País do Futuro e Ninguém Segura este País, fui ficando órfão, sabiá exilado em meu próprio coqueiro.
E quando se vive assim, quando se acostuma com crises, mal feitos e absurdos intermitentes, a gente acaba achando que é normal. Simplesmente nos acomodamos e não temos parâmetros para comparar.
Isso durou até 1982, quando conheci Paris e várias cidades na Europa. Costumo dizer que esta viagem, de quatro meses, foi a melhor e a pior coisa que me aconteceu.
Melhor porque, sem exageros, descobri o Mundo. Pior porque tive que sair do mundo e voltar para o Brasil.
Sair do Brasil, morar fora, durante anos, atiçou a profunda relação de amor e ódio que tenho por Barbacena, Minas e o Brasil.
Pessoas que não me conhecem, ou seja, 99,9% delas, com razão, devem me achar esnobe por falar tanto, elogiar tanto, comparar e lamentar tanto Paris e França, em relação ao Brasil.
Mil perdões, mas tenho a estranha mania de falar apenas do que conheço. E conhecimento tem nada a ver com cultura ou inteligência. Talvez seja até mais importante porque é conhecendo lugares e pessoas que perdemos preconceitos e crescemos.
Ao mesmo tempo tenho vergonha de não conhecer o Brasil e a América do Sul.
Não é por falta de vontade. É que aqui, a começar ou continuar pelo Turismo, nada funciona. Fazer bom turismo no Brasil é caro, difícil e chato. O Brasil bonito não é para brasileiros, é para os estrangeiros que, por sua vez, não vêm para cá, pelos mesmos motivos, mais a violência.
E assim, o País do Carnaval não tem mais carnaval. Nem música, literatura, cinema, etc. A Pátria de Chuteiras não tem mais futebol e a terra das mulheres lindas não tem mais mulheres porque a maioria delas quer ser babaca, quer agir como homem, quer ser homem.
Nelson Rodrigues errou poucas vezes. Uma delas foi dizer que, em 1958, conquistando a primeira Copa do Mundo, na Suécia, o Brasil perdeu o complexo de vira-latas.
Sinto muito Nelson, mas até você morrer, em 1980, o Brasil continuava o fim do mundo, “perifa”. E depois, conseguiu piorar.
Já estou em 677 palavras!
Sinceramente e na humildade, eu já tinha jogado a toalha. Já estava conformado em ter nascido no lugar errado, de ser vira-latas e viver no eterno País do Futuro, a vanguarda do atraso!
Não sei se o Bolsonaro vai conseguir. Espero, torço e ajudo. O fato dele ser o contrário de todos os antecessores ajuda bastante.
Sem entrar em detalhes, enfim achei um cara, um presidente, com as minhas rugas e rusgas mais básicas. E dou apenas dois exemplos pequenos, simples, mas fundamentais: o já citado Turismo e as ferrovias. Ah! E o profundo nojo e desprezo pelo politicamente correto e o PT.
Concordo com ele em todo o resto, mas deixa pra lá porque, no lugar dele, eu seria ainda mais Bolsonaro. Tá muito bonzinho, muito democrático, pra mim.
Bolsonaro também fez os brasileiros e o mundo descobrirem o Brasil que ousa dizer seu nome, as girafas da Amazônia e que isso aqui não é zoológico, Disneylândia ou Euro Disney!
E ninguém fala “vagabundo” como Bolsonaro….
Quanto à França, melhor, quanto a Paris, continuo amando-a profundamente, mas lamentando o que ela é, está e o que vai virar. “Desolé”, mas gosto da França francesa!
“Au revoir, Douce France”.
Então, por enquanto, pelo menos até 2022, continuo por aqui, num otimismo de doer e irritar. Quem sabe, até lá, terei tempo de conhecer Porto Alegre, Manaus e arrabaldes!
PS: Neste exato momento, na TV francesa, France 24h, estão falando mal do Crivella e do Bolsonaro. 924 palavras.
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Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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