29 de março de 2024
Walter Navarro

Sequestraram a lógica, assassinaram a piada


Como cantava a banda Os Paralamas do Sucesso, “Meteram poesia
na bagunça do dia a dia, onde devia e não devia. Lá vem o poeta com sua coroa de louro bertalha, agrião, pimentão, boldo.
O poeta é a pimenta do planeta”.
Este sequestro paspalhão, de um ônibus, na Ponte Rio Niterói…
Tem gente que ainda se surpreende no e com o Brasil….
Aqui, há muito, acontece e vale tudo. Liberou geral.
Antes mesmo de saber o que estava acontecendo, recebi esta piada pelo WhatsApp, de uma amiga que mora na Europa: “Confirmado. O ônibus do sequestro é o maior do mundo. 14.745 trabalhadores ligaram para os patrões para falar que estavam no ônibus. Cerca de 1523 trabalhadores afirmam que estão no ônibus até agora”.
No Brasil, as piadas acontecem antes do fato que geram as piadas, kkk.
Ainda com cara de bobo que não entende a piada, recebi outras duas mensagens e, aí sim, captei a mensagem, o fato e a blague.
Eram mais bizarras que a própria piada dos 14.745 trabalhadores e outros 1523 mentirosos de mentirinha.
E as mensagens, indignadas, ainda vieram ilustradas com fotos.
Todas mostrando a “falta de absurdo” que, há 519 anos, é o Brasil.
Mensagens e fotos criticavam e ao mesmo tempo faziam humor. Condenavam e riam de gente que, parada no meio da ponte, por causa do sequestro, aproveitava o tempo para empinar pipa no vento das alturas da ponte, jogar baralho no asfalto e, o mais “surreal” de tudo: um gaiato que, aproveitando o público e a plateia, aproveitou pra vender suas coxinhas e refrigerantes aos inusitados clientes.
E tem gente que achou estranho, como se fosse a primeira vez, como se fosse um estrangeiro no Brasil, um estranho no ninho brasileiro.
Quem ficou pasmo com esta novidade, simplesmente não conhece ou esqueceu a deliciosa música de João Bosco e Aldir Blanc, “De Frente pro Crime” de… Agora podem pasmar: 1975!
“Tá lá o corpo estendido no chão, em vez de rosto a foto de um gol (…) o bar mais perto depressa lotou. Malandro junto com trabalhador, um homem subiu na mesa do bar e fez discurso pra vereador. Veio o camelô vender anel, cordão, perfume barato, baiana vai fazer pastel e um bom churrasco de gato…”.
PS: Dúvida mesmo só tenho uma. Esse churrasco era de gato ou era churrasquinho de mãe? Com ou sem louro bertalha?
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Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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