Nessa balada pelo “social”, na teoria, e pelo magnata, na prática, o “Estado forte” torra a maior parte do que o país produz
O Fundo de Garantia só garante uma coisa: que o sujeito vai ser roubado todos os dias pelo Estado
(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)
O ex-candidato presidencial João Amoêdo tem um problema sem solução junto à maioria dos economistas brasileiros. Quando diz alguma coisa sobre economia, em geral todo mundo entende na hora — e, como se sabe, nada deixa um economista brasileiro tão incomodado quanto ouvir alguém falando em português compreensível para o cidadão comum. Acham que não é “sério”, nem aceitável “a nível” acadêmico, nem à altura do que definem como “ciência econômica”. (Essa impaciência é especialmente aguda entre as autoridades universitárias, ou descritas como tal, que são ouvidas regularmente pela mídia na condição de “especialistas” em economia.) Amoêdo fez há pouco, num de seus canais de comunicação pela internet, a seguinte continha: um brasileiro que tinha 1.000 reais depositados no seu Fundo de Garantia em 2008 tem hoje 1.510, enquanto um outro, que colocou os mesmos 1.000 reais, no mesmo ano, numa aplicação de Tesouro Direto, está com 2.800. É quase o dobro — só isso. E qualquer pessoa alfabetizada é capaz de ver, na hora, quem ganhou e quem levou na cabeça nesse negócio.
A conta de padaria feita por Amoêdo comprova mais uma vez o fabuloso conto do vigário contido na ideia segundo a qual o “Estado” tem um papel essencial na redistribuição de renda no Brasil. O papel do Estado é essencial, sim, mas para fazer exatamente o contrário do que se diz: concentrar renda, transferir dinheiro do mais pobre para o mais rico e deixar o trabalhador no prejuízo em qualquer negócio que faça, enquanto mantém de pé uma monstruosa estrutura de “proteção social” que serve sobretudo aos que mandam na máquina pública. Dão uns trocadinhos para o pobre diabo que dizem proteger — mas cuidam, quase o tempo todo, dos interesses, salários, benefícios e privilégios dos seus próprios funcionários, sobretudo os mais bem pagos, e dos grandes reformadores sociais que inventaram essa aberração toda. O demonstrativo de João Amoêdo não é novidade, nem vai lhe valer um prêmio Nobel de Economia. É apenas claríssimo. Pronto: é o suficiente para ser dado como “simplista”, “ingênuo” etc. — e por isso mesmo vamos continuar assim, decidindo em mesas redondas na televisão como promover a justiça social no Brasil através de atos administrativos e recomendações de professores universitários.
Naturalmente, não há nada de errado em lucrar investindo dinheiro ganho honestamente em títulos no Tesouro Nacional. O que há de errado é a farsa de um “Fundo de Garantia”, pago integralmente pelo empregador privado, que só garante mesmo uma coisa: que o sujeito vai ser roubado todos os dias nas contas que calculam seu saldo, e roubado justamente pelo Estado que gere esse seu dinheiro e diz ser o seu protetor. A trapaça do FGTS é apenas uma, entre as dezenas de exemplos de “programas” de governo que funcionam ao contrário do que dizem ser. “Somos 200 milhões de trouxas explorados por algumas empresas neste país”, disse há pouco o ministro Paulo Guedes numa palestra em São Paulo. “Duas empreiteiras, quatro bancos, seis distribuidoras de gás, uma produtora de petróleo…” É difícil fazer um resumo melhor de como funciona, na vida real, a economia brasileira — um Estado que manda em tudo, com a desculpa de que pensa e gasta para todos, e só dá vida boa a uns poucos. Nessa balada pelo “social”, na teoria, e pelo magnata, na prática, o “Estado forte” torra a maior parte do que o país produz. “O gasto público”, disse Guedes, “é o grande vilão do Brasil nos últimos 40 anos”.
Com diagnósticos como esse, Guedes nunca terá, também ele, grande cartaz junto à maior parte dos nossos professores de economia. Claro que não: como pensadores de esquerda, eles acham que quanto mais um governo gasta, e quanto mais fica devendo, mais admirável será como executor de “políticas sociais”. Custa uns 500 bilhões de reais por ano, ou algo assim, em pagamento de juros para os infames “rentistas” que tanto abominam — metade do que se vai economizar em dez anos com a reforma da Previdência. Mas e daí?
Publicado na edição impressa da EXAME
Fonte: Blog Fatos – Veja Abril
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.