16 de abril de 2024
Walter Navarro

Trocando a 51 por uma Previdência


A vida imita a arte, a arte imita a vida, o contrário ou vice-versa?
O Realismo Mágico da América-Latrina é mais fantástico que o Surrealismo europeu ou apenas e simplesmente mais real, palpável, visível?
Que país é mais louco que o Brasil na vizinhança? A Argentina de Borges e Cortázar; a Cuba de Carpentier ou a Colômbia de García Márquez?
Quem é mais Napoleão? Os espanhóis Buñuel e Dali ou o brasileiro Glauber Rocha?
Quem se lembra da série “24 Horas”? E mais recentemente, do presidente “Frank Underwood” (Kevin Spacey) de outra série norte-americana, “House of Cards”?
Numa das temporadas de “24 Horas”, como a Justiça tardava, falhava e não funcionava nem a pau de Sérgio Moro; o herói, “Jack Bauer” (Kiefer Sutherland), sequestra e o tortura o presidente dos Estados Unidos, para que o canalha confesse seus crimes e pecados. Por muito pouco o presidente mentiroso e ladrão não assumiu o tríplex de Atibaia… Foi salvo pelo gongo e pelo politicamente correto. Isso num país que adora matar seus próprios presidentes.
Mas deixemos este episódio, já resolvido, sem sequestro e tortura, lá em Curitiba.
Voltemos ao Brasil de “House of Cards”.
No auge da série, 2013-2016, muita gente comparou a ficção norte-americana à realidade brasileira.
Tadinho do Obama, sobrou para ele, depois de Bush e antes de Trump.
Mas, no Brasil, neste mesmo período, quem reinava? Dilma e seu Temer.
Resultado: a realidade da política brasileira deu uma surra de mandioca do grelo duro e de vara mole na ficção política norte-americana.
E olha que “Frank Underwood” era um assassino assumido. A série teve vários Celso Daniel e muitos Adélio, juntando passado e presente brasileiros.
A grande diferença entre os canalhas dos Estados Unidos e os políticos do Brasil é que os primeiros fazem tudo pelo poder, no Brasil fazem tudo por dinheiro. Coisa de gentinha de pouco estudo.
No Brasil os salafrários gostam do poder pelas mordomias e pelo dinheiro que ele confere.
Por que estou desenterrando tudo isso?
Por causa da votação da Reforma da Previdência, hoje, no Brasil e porque, salvo engano, na terceira temporada de “House of Cards”, o presidente “Frank Underwood” também está envolto nas dificuldades da aprovação de uma Reforma da Previdência.
Na série, a oposição quer sabotar a Reforma não comparecendo à votação. O que faz então o presidente? Manda os seguranças trazerem os deputados à força, presos, algemados. Não para forçá-los a votar, mas para ter quórum.
No Brasil, a oposição não pode simplesmente fugir da votação, pelo contrário.
A oposição aqui tem que atrapalhar, gritar, cuspir, difamar, confundir, bagunçar, atrasar, no mínimo, se vender.
Por que Lula nunca sofreu impeachment? Porque assim como FHC comprou a reeleição, o atual presidiário comprou até a oposição, no saudoso Mensalão de sinistra memória. Saudoso porque, perto do Petrolão, BNDES, etc., é dinheiro de cachaça, de providência e atitude de 51 e Pitu.
Oposição deveria agregar, somar; ser, em qualquer democracia, uma coisa saudável e natural. Uma arma contra ditaduras e pensamento único. Uma troca, uma complementação de ideias visando o bem do país e do povo.
Aqui é torcida contra, é o toma lá dá cá, é a “governabilidade”, é o quanto pior melhor para a gente voltar, é o apego supremo ao osso; um baile de vampiros.
Não sou a favor de tortura, nem da prisão de quem pensa diferente. Mas para que a civilização sobreviva, não sou contra o uso da ordem, da sensatez, das leis ou de um cabo, dois soldados e…
PS: Na ficção, em bons roteiros, em Agatha Christie, muitas vezes a gente custa a descobrir quem é o vilão, o assassino, o culpado. Na realidade brasileira, uns já estão presos, mas a maioria está na cara, na fila do gargarejo e votando contra.

Walter Navarro

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.

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