Conheci uma moça, que, mesmo linda, morena, alta, inteligente, nível superior, se lastimava por nunca encontrar “o cara”.
Dela só se aproximavam os manipuladores, os crápulas, os quase psicopatas – invariavelmente sob a capa de “o cara”: até sua pelagem de ovelha cair, revelando-os.
No fundo – ou no raso – ela sabia disso, a cada um que se aproximava, mas ela escolhia acreditar – ou se enganar, nesse caso dá quase no mesmo.
Escolhas.
Tive um amigo que namorava uma bela moça, juntos há alguns anos. Embora quase da mesma idade – ela um pouco mais velha – ele parecia ter bem menos: graças a seu jeito irresponsável e eterno adolescente, embora já na casa dos 30.
Ela tinha objetivos mais conservadores: casar; ter filhos; viajar nas férias com a família; envelhecer juntos.
Ele tinha outros planos: não crescer nunca era o maior deles.
Ele a abandonou, enfim.
E ela descobriu ter perdido alguns anos de sua vida ao lado de alguém que não tinha as mesmas escolhas.
Escolhas.
Amar e acertar a quem amar é quase sempre escolha: desde as baladas de amores mal resolvidos medievais até Khal Drogo e Daenerys Targaryen, o amor quase nunca é a primeira vista, quase nunca é fácil, quase nunca nasce pronto e acabado, apenas para ser desfrutado em um esplêndido e hipotético berço.
Amor é difícil. Amor se esconde. Se encrisola. Amor às vezes tem que ser arrancado à fórceps, amor quase sempre tem a ver com nuvens de chuva em vez de dias de sol.
Amor é bicho noturno.
Amor é escolha.
Amar é ter um bloco de mármore à frente, e um cinzel e martelo nas mãos: amor é escolher esculpir a pedra massiva.
Amor é ter coragem de escolher seguir sozinho na estrada, como numa canção country, por anos, até, tendo a confiança de que alguém vai estar à espera na sombra daquela montanha ou numa curva de ravina.
Amor é escolher a melodia mais difícil, os acordes mais intrincados, os atalhos mais esburacados. Aliás:
O amor não escolhe atalhos.
Amar é escolher percorrer a vereda por inteiro.
Mesmo sabendo que, ao final da jornada, suas botas vão estar velhas e sujas.
Enquanto sua mochila às costas vai estar cheia – mas, curiosamente, não pesará.
Amor é pássaro colorido, fugidio e raro.
É conto de unicórnio, é isca de sereia, é tábua de esmeralda.
É escolher buscar a pedra filosofal, o armário de Nárnia, a távola redonda.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.