18 de abril de 2024
Priscila Chapaval

Um cacto que virou uma linda rosa

Imagem meramente ilustrativa

Conheci a Rose e o Wertinho numa loja onde eu tinha um contrato de assessoria de imprensa. Era uma loja de decoração super transada e contemporânea.
Sempre que eu ia na loja, Rose vinha me servir café, água ou chá. Era uma moça simples, mas educada, e com uma aparência boa. Gostei dela desde a primeira vez serviu o café.
Um dia, a minha cliente me contou que estava a fim de vender a loja e morar fora. Me ofereceu a sua funcionária Rose me dando as melhores recomendações.
Imediatamente aceitei a oferta e contratei a Rose para trabalhar na minha casa. No começo vinha quase todos os dias, depois 3 vezes por semana e depois menos vezes.
A primeira vez que ela veio trabalhar comigo, chegou toda arrumada e foi logo colocando o uniforme da loja que ficou com ela. Achei ótimo ela ter essa iniciativa. Fazia uma limpeza maravilhosa, tudo saia brilhando, a casa perfumada, passava divinamente as roupas mas percebi que seu forte não era a cozinha caso eu precisasse.
Rose não sabia ler nem escrever. Comia com colher. Vi nela um potencial que deveria ser trabalhado. A primeira coisa que pedi é que ela fosse estudar à noite e que poderia sair mais cedo. Ela aceitou prontamente e começou os estudos até se formar.
Aos poucos fui ensinando como comer com garfo e faca. Ela pegou o jeito e começou a comer como uma pessoa elegante. Percebi sua capacidade e vontade de aprender.
Um dia me contou que ela e Wertinho vieram de Natal onde moravam. Sem dinheiro vieram de pau de arara. Só tinham aqui em SP, alguns parentes do marido e uma irmã dela que morava longe.
O tempo foi passando e Rose foi ficando cada dia melhor. Lia e escrevia e estava elegante na sua maneira de ser. Ganhava da minha irmã Clariza todas as roupas importadas que ela não usava mais, todas com grifes, novas e na moda. Caíam feito luvas no corpo da Rose, que inveja!
O marido também trabalhava numa loja de importação de objetos decoração e era responsável pelo estoque e decoração do showroom. Foram prosperando.
Um belo dia Rose chegou e me disse que iria casar no civil e religioso com o Wertinho. Com Igreja decorada e com vestido de noiva mesmo já tendo dois filhos. Me convidou para ser a madrinha e claro que aceitei na hora. Ela fez uma exigência: que eu fosse com vestido longo de festa e toda produzida. Os padrinhos deveriam ir de terno e gravata.
Chegou o grande dia. E lá fui eu com um amigo que ela gostava e que seria o padrinho.
Rose chegou na igreja com seu compadre num carro bem elegante que brilhava de tão limpo. Saiu toda linda com seu vestido de noiva, véu e grinalda e um buquê de flores nas mãos.
Entramos antes da noiva e notei pouca gente na igreja. Mas, em compensação o altar estava lotado. Lá estavam todas as suas patroas e ex-patroas que foram também convidadas para serem madrinhas. Eram tantas que mal cabia o padre e o coroinha no altar.
Depois da cerimônia matrimonial a saída do casal foi com chuva de arroz e muita alegria.
Na sequência teria festa no quintal da casa deles que era grande o suficiente para acomodar todos.
Desde o dia que ela me convidou para esse evento eu sonhava com aquele sanduíche de pernil com molho de tomate e cebola. Bolo e brigadeiro. E chope… que delicia!
O quintal estava todo arrumado com várias mesinhas, cadeiras e flores. Todos bem acomodados e ainda com um bom espaço para dançar. Teve a valsa dos noivos e o bolo da noiva que estava lindo.
A pedido dela seria servido sanduíches de metro. Rose achava isso muito chique. E eu fiquei sem o sanduíche de pernil. Por que a troca pelo de metro?
Chegou a hora de a noiva de jogar o buquê para a mulherada, em especial as solteiras. Se juntaram rapidamente e suas expressões eram muito engraçadas e eufóricas, loucas para pegar o buquê.
E foram todas se ajeitando para isso. Mas, quando Rose jogou o buquê errou o alvo e jogou com vontade. Só que o mesmo ficou entalado, preso nos fios do poste que passavam pelo quintal. E nada do buquê cair. Estavam todas com os braços levantados e as mãos prontas para pegar
A mulherada, querendo porque querendo ser a próxima candidata a casar, começaram a jogar as latinhas de refrigerantes nos fios. Uma verdadeira artilharia, mas nada,,,.
Os homens sacudindo o poste até que o buquê caiu e todas se jogaram em cima dele. Até hoje não sei o que houve, quem pegou, porque tive um ataque de riso que não me lembro de mais nada.
Hoje, após 20 anos trabalhando em minha casa, minha amiga Rose se tornou uma mulher bem bacana. Os filhos cresceram e são trabalhadores, inteligentes e educados. Ela querendo trabalhar menos. Vem poucas vezes aqui em casa até porque o serviço diminuiu muito. Wertinho continua trabalhando na mesma área e, nos fins de semana, adora ficar em casa descansando e tomando cerveja e fumando seus cigarros.
Rose detesta que ele beba e fume. Gosta de sair. Como ele não gosta, não se importa que ela saia com suas amigas e sua filha que já é uma moça. Todo domingo tem festas na casa das amigas ou vão dançar num clube que frequentam. O casamento vai bem. Até nisso eles entraram na vibe moderna.
Qualquer domingo vou sair com ela e as amigas. Deve ser bem divertido . E com direito à dança de salão. Ela me conta de um jeito tão bacana que eu viajo nas histórias dela.
Só não me conformo que no casamento não teve o sanduíche de pernil! Quem sabe no casamento dos filhos!

Priscila Chapaval

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

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