29 de março de 2024
Sylvia Belinky

Ri melhor quem ri por último


Há algum tempo descobri que poderia estar na internet, trocar ideias com muitas pessoas ao mesmo tempo, gente com a mesma opinião, outros que tinham outra, mas todos simpáticos, educados e interessantes para se trocar pontos de vista e também para aprender com a diferença, porque não existe nada mais que ensine tanto como a diferença: entender a preferência do outro, explicando a nossa.
Passado o período de lua de mel que partilhei por aqui e que foi longo, algo como ano e meio (muito para uma lua de mel!), surgem as eleições, as polarizadas eleições em que você tinha que explicar sua escolha, justificá-la e guardar algo não dito no bolsinho do colete, para soltar quando ficasse meio “sem munição” –assunto vital para  quem nos governa hoje: munição, algo que eu queria  apenas para ter tempo de descobrir mais alguma qualidade no meu candidato.
Tomei um bruta susto, quando vi que estava sendo atacada de modo mais maciço e virulento –  e em meu próprio Face Book! Disposta a não dar o troco – afinal, ainda estávamos entre amigos, onde ter uma opinião diferente não nos descredenciaria de nada – tentei um arrazoado do qual “os contrários” (que ainda não se tinham transformado em inimigos) não fizessem terra arrasada… E me lembro de ter ficado um tanto perplexa com tanta “ênfase”, chamemos assim.
Mas, quando a briga passou a ser , mais uma vez, “quem não está comigo está contra mim”, achei que político algum merecia tanto crédito! Assim, continuei com meu candidato (que, como se dizia antigamente, não pagou nem placê) e tratei de sair das discussões. Claro que, com dois candidatos com muito mais defeitos do que qualidades, escolher um não seria tarefa fácil.  Mas devido a meus mais de 50 anos escolhendo de acordo com minha própria cabeça, estava certa de poder fazê-lo mais uma vez: questão de honra, no mínimo!
As pessoas que conheço de fato e respeito muito tinham verdadeiro horror de tentar o desconhecido, ou o que se conhecia dele – que, verdade seja dita, jamais se escondeu atrás de belas frases e candidaturas mornas: a sua era abertamente truculenta e, depois do atentado em que parece que lhe estouraram a bolsa de biles, passaram a exigir dos pares uma posição bélica: é ele e mais ninguém.
Como o outro candidato era e sempre foi o impensável para mim, haja vista os resultados dos 16 anos de descalabro aí para todos verem e julgarem, pela primeira vez na vida como eleitora, confesso:  votei nulo para presidente.
Hoje, quem era contrário a essa candidatura bélica faz o que eu chamo de “dança da chuva: uns atrás dos outros num círculo, como índios, vão repetindo: “Eu não disse? Eu não disse? Eu não disse?” Digamos que essa dança não é eficiente, uma vez que não muda nada, mas deve desopilar o fígado… Nenhum destes que faz a “dança da chuva” me disse que, por conta do meu voto, o outro candidato não ganhou e encaro isso como uma forma de… respeito.
Sou de opinião que quem não votou, não tem do que reclamar, e tenho procurado ficar na minha, sem dar apoio a ninguém.
O que me desgosta profundamente é que as pessoas – em especial aqueles que me pareciam inteligentes e bem articuladas – parecem cães raivosos, exigindo de todos um posicionamento.
Mas… exigindo? Como assim?  Não votei, não estou de acordo e não estou rosnando para ninguém, apenas olhando o panorama que não se descortina bom e, embora com tristeza, me parabenizo por não ter voltado minhas esperanças para ninguém e a razão é simples: se eu as tivesse, estaria tentando protegê-las da truculência e da barbárie que perigosamente se anuncia.
Entretanto…
Não deixa de ser auspicioso, ao menos para mim, descobrir que militares podem ser pessoas de excelente nível, de discurso coerente – e, pleonasticamente, até patriótico – não aproveitando o ensejo do “quanto pior, melhor”, mas tratando de por panos quentes e jogando água fria na fervura.
Neste momento, surpresa: descubro que são eles a minha esperança!
Se alguém aventasse essa hipótese para mim, eu riria. Mas, hoje, eu certamente preferiria um presidente como o general Mourão: homem culto, inteligente, equilibrado e claramente de boa paz – suprema ironia – do que com o ignorante destrambelhado e seus filhotes, criados todos à sua imagem e semelhança!
Como eu disse: meses atrás, eu riria de quem me dissesse isso.  Hoje, espero ser aquela que ri por último – e por isso mesmo, melhor!…

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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