24 de abril de 2024
Adriano de Aquino

Canalhice gera repulsa


Não sigo o presidente no Twitter. Os que me seguem sabem que não sou um fã de políticos. Porém, por se tratar do veículo prioritário de comunicação social do presidente, suas postagens se tornaram foco diário da grande mídia, dos seus aliados e opositores.
Não importa em que rede social você navegue. Em todas, o compartilhamento das suas postagens tem volume maciço. O feed de noticiais desse site rola compartilhamentos sequenciais dos seus tweets, com encaminhamentos e comentários contra ou a favor dos seus ‘pronunciamentos’ virtuais.
Não precisa ser um expert em estilo para se detectar de imediato que os posts e os compartilhamentos oriundos da página dele no Twitter são curtos, muitas vezes brutos e em sua maioria voltados para impactar positivamente seus entusiastas e incomodar profundamente seus opositores.
Não precisa ser um gênio em comunicação para entender essa formula de ação midiática.
Essa semana, Bolsonaro compartilhou um texto apócrifo na sua página no Twitter que bombou nas redes.
O texto, com estilo radicalmente diferente das suas habituais postagens, penetra no corredor da matriz do modo de se fazer política no país. Descreve os entulhos autoritários escondidos nos cômodos escuros onde funciona o mecanismo da canalhice, ajustado para produção de entraves que submetem a política brasileira a negociatas espúrias.
Nada que um cidadão letrado e de aguçada percepção sobre a realidade brasileira não soubesse.
Qual dos gatilhos – o teor do texto ou sua publicação na página virtual do presidente,disparou nas mentes astutas🤨 o sinal de alerta?
Quando tive oportunidade de ler, logo na primeira frase percebi a gritante diferença na forma e no conteúdo dos posts regulares do presidente que inundam as redes sociais. Isso não me espantou!
O que me espantou foi ver jornalistas se assombrarem com o compartilhamento de um texto de notória autoria de terceiros. Me espantou, mais ainda, experientes ‘profissionais’ da comunicação não titubearem em tascar no texto um anuncio ameaçador. Uma espécie de prefacio de um golpe ou renúncia e uma ameaça às instituições democráticas.
Fala sério! São todos profissionais. Ao aludir a uma renúncia, Jânio reencarnou no imaginário dos ‘resistentes’ tornando uma coisa séria em hipótese burlesca. A pressuposição do ‘golpe’ é algo facilmente compreensível porque golpe foi o mote preferencial da imprensa nos últimos quatro anos. Sobre esse tema as rotativas da imprensa tem memória de sobra para montarem sozinhas a primeira página.
Para finalizar, uma das mais conhecidas ameaças à democracia é a nefasta tradição que orienta a prática da farsa da ‘governabilidade’, reeditada na forma de ‘negociação com as legendas partidárias’(barganhas) para dar sustentabilidade aos projetos do executivo.
Esse é um filme velho e reprisado, cujos os personagens e os péssimos trailers, produzidos pela Base Aliada, com atores soberbos da política, como FHC, projetaram na tela uma farsa de democracia ‘de bem’ com a corrupção.
Uma farsa que soterrou um Mensalão, salvou um governo atolado em corrupção, que se reelegeu com apoio do mecanismo Reeleito, reeditou o Petrolão e outras variaríeis da canalhice política.
Até o dia em que todos os personagens da trama macabra foram ensopados pelas duchas geladas da Lava Jato.
O país mudou!
Só as engrenagens do mecanismo enferrujado, insistem em girar ao contrário e parar a nação.
Para mim pouco importa quem conduzirá as reformas e as mudanças necessárias e urgentes.
O que importa é que a sociedade não esmoreça, relaxe e deixe de lado essa luta, largando nas mãos dos coveiros o trabalho de fixar a lapide sobre a tumba do atraso.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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