20 de abril de 2024
Joseph Agamol

E a Fabiana não levou o café


Eu sou viciado em Starbucks, amigos e vizinhos. Sério. Acho que é porque me traz lembranças doces da América.
Curioso que as Starbucks daqui pouco tem a ver com as ianques. Aqui, as cafeterias são uma pequena e aconchegante toca cool, com bancos de couro, tons amadeirados e uma penumbra conveniente e adequada.
Lá, em comum, só a penumbra. Starbucks americanas são botecões pés-sujos – mas democráticos ao extremo:
você vê desde new-yorkers chiques e apressados, verdadeiros modelos para aquele meme “tomando café e chamando um táxi em Nova Iorque”, até homeless que ficam em seus cantos sem ninguém incomodar.
Mas Starbucks americanas são preciosas por vários motivos, além das gostosuras inerentes:
1 – tem BANHEIROS – coisa rara nas ruas nova-iorquinas;
2 – tem Wi-Fi que funciona;
3 – e, no frio, são abrigos acolhedores.
Mas viajei, me perdoem.
Eu dizia que vim ao shopping agora de manhã, num rompimento da rotina, e entrei na Starbucks. Optei por um Latte, simples – meu médico mandou segurar um pouco o açúcar.
Pela foto, fica claro que estou seguindo à risca a recomendação.
A moça do caixa pediu meu nome – resisti à tentação de dizer que me chamo “Bolsonaro”, mas foi duro, viu?! – e fiquei aguardando.
– Fabiana!, chamou a atendente.
Passaram uns 5 minutos:
– Fabiana!!!, chamou de novo, agora com três pontos de exclamação no final.
Olhei em volta, procurando a moça. Nada. Néris. Neca de pitibiriba. Saraiva vazia.
“Saraiva?! Mas não era Starbucks?!”,
perguntará um leitor atento, nada como ter leitores atentos, alguns me chamam atenção para contar, como diz o Fabio Júnior naquela canção, “as novidades que eu já canso de saber”, mas sou educadinho e finjo que não sei nada como Jon Snow.
Sei também que não tenho mais 20 e poucos anos mas tá valendo.
Eu estava na Starbucks que fica DENTRO de uma Saraiva, unindo assim duas grandes paixões: livros e café. Faltou só uma moça lendo descalça com os pés em cima da mesa para completar o quadro estético perfeito.
– Fabiana!, chamou pela terceira vez, dessa vez acompanhado de um expressivo rolar de olhos e encolher de ombros.
Chegou a minha vez. Não, eu não disse que meu nome era Bolsonaro, eu resisti, viu?!
Peguei o copo que era da Fabiana sem querer, a moça me corrigiu e deu o meu. Perguntei:
– e a Fabiana, hein?!
Ela sorriu um sorriso doce de quem obviamente trabalha em uma Starbucks e vê de tudo todos os dias, gente que não gosta de chocolate, casais apaixonados e casais emburrados, loucos por livros e cafés como eu, ou só gente que desfruta do oásis da loucura do mundo exterior ouvindo um jazz abluseirado.
Peguei meu latte e escolhi um canto nas sombras. Bebi. Escrevi. Pensando na moça que deixou seu café por beber na livraria. Escolhi um livro. Desisti, coisa demais para ler em casa. Ouvi uma nova cantora, depois conto para vocês.
E a Fabiana não levou o café.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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