Cada dia mais dependentes de mídias sociais criam universos paralelos e deixam de viver experiências reais
Texto: Fabio Steinberg
Tudo indica que mobilidade virou sinônimo de intoxicação digital. Uma das principais vítimas desta tendência é o setor de turismo e viagens. O que antes parecia uma promissora evolução da tecnologia para facilitar as comunicações nos trajetos hoje começa a se transformar em pesadelo.
Passageiros parecem cada vez menos interessados em curtir paisagens, ouvir os guias, ou se socializar. Geralmente estão muito ocupados interagindo nas redes sociais.
Evolução
Primeiro vieram os notebooks. Trambolhos bem pouco portáteis, foram substituídos pelos tablets. Logo vieram dispositivos leves e práticos, como telefones e relógios inteligentes. Foram saudados pela capacidade de fotografar, telefonar e mandar mensagens para todo mundo, de qualquer parte do planeta.
Novo perfil – o dependente digital não é mais só quem passa dias isolado em um desktop
Mas o tiro saiu pela culatra. Ficaram tão populares que hoje é mais provável alguém embarcar e esquecer cônjuge ou filhos em casa do que deixar de trazer o dispositivo eletrônico. Companheiro inseparável, tornou-se tão exigente que faz questão de participar de todos os momentos da viagem.
O problema não é o aparelho, mas como separá-lo das mídias sociais. Há uma regra não escrita de que uma experiência só se torna verdadeira se for registrada e compartilhada, e tem que ser na mesma hora.
Família (des) unida – ninguém mais está imune aos dispositivos e mídias sociais, nem mesmo o cachorro
Seita gigantesca
O número de adeptos da nova seita é avassalador. Há mais de três bilhões de usuários, quase metade da população global. Cada um possui em média oito contas – entre elas Facebook, Instagram, LinkedIn, WhatsApp e Twitter. Basta dizer que sessenta bilhões de mensagens são disparadas por dia só pelo Facebook e WhatsApp juntos.
As mídias sociais vieram para ficar, e crescem de forma exponencial. A cada trimestre mais 120 milhões de usuários se somam aos existentes. Em média, diariamente cada pessoa se afasta do mundo real por mais de duas horas. Ou seja, pode até estar fisicamente presente, mas emocionalmente está lá longe.
Intoxicação digital
Vício maldito – o dependente digital é tão viciado quanto o de drogas ou álcool
Esta dependência digital – que especialistas já comparam ao álcool, drogas ou superalimentação, afeta não apenas comportamentos individuais, mas relacionamentos. Há efeitos colaterais, desde perda de sono, ansiedade, depressão, irritação, até prejuízos no trabalho e estudos. Por conta disso, a cada dia surgem organizações especializadas em livrar os viciados da intoxicação digital.
O uso sem limites das redes sociais, principalmente nas férias, tornou-se motivo de separação de casais. Intrigado com a questão, o escritório de advocacia londrino Brookman patrocinou uma pesquisa. Descobriu que nas viagens clientes se queixam dos parceiros “ausentes-presentes”, pois passam a maior parte do tempo grudados nos dispositivos.
Casamentos em crise
Pivô da crise – Tornou-se comum casais se separarem e culpar a dependência do cônjuge pelas redes sociais.
Dos entrevistados, 60% denunciaram que, ao invés de curtir a viagem, o acompanhante não parava de acessar as mídias sociais. Cerca de 25% reclamaram de viciados seriais, capazes de se desligar do mundo real incontáveis vezes por dia. O estudo concluiu que a dependência tecnológica aumenta o desgaste de casais. Assim, há gente que gasta mais tempo em relações virtuais com amigos, seguidores, e até estranhos, do que com quem está ao seu lado.
Nem sempre muito tempo dedicado às redes sociais caracteriza esta patologia. Um estudo da Universidade de Connecticut concluiu que a situação se torna grave quando o comportamento extravasa para o lazer e se replica em fins de semana, feriados e férias.
O trabalho avalia ainda que algumas pessoas têm menor risco de dependência, pois buscam nas redes apenas informação. Já o mais preocupante é quem está atrás de felicidade, realização pessoal, ou sentir-se parte de algo que falta em sua vida.
Fuga do vício
Para preservar a qualidade de vida e relacionamentos intactos durante as viagens, há três gradações de medidas. A primeira é radical: não levar o telefone, principalmente em saídas curtas ou passeios com amigos ou familiares.
Uma alternativa mediana é usar o dispositivo no modo “avião”. Mas para casos graves, quando o usuário receia crises de abstinência, recomenda-se o acesso controlado às mídias sociais. Não mais que dois minutos, duas vezes por dia. E como cigarro bebida, sempre fugir de situações que levem à recaída no vício.
Rotas em contraste – o risco das redes sociais é a experiência verdadeira ser substituída pela versão falsa e irreal.
Fonte: www.turismosemcensura.com.br
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