25 de abril de 2024
Sylvia Belinky

São Paulo e o perfume das rosas


Dando um passeio com meu cachorro, noto que muitos jardins têm roseiras plantadas… Lembrei que, antigamente, quando as pessoas presenteavam com flores – aquelas que eram escolhidas uma a uma, prelibando a alegria de quem ia recebê-las – além da beleza e do lindo buquê, elas eram também…perfumadas!! Uma, em particular, a minha predileta, que era chamada de Tiffany, amarela perto do centro e cor de rosa pálido nas pontas, era especial, perfumadíssima!
Existe uma razão para ter muitas roseiras plantadas no meu bairro, que é extremamente arborizado, de casas mais antigas, sem excessos arquitetônicos, onde moram muitos idosos que começam a se mudar de bairro por n razões: os filhos cresceram e, morar em casa, sem ter quem nos ajude a cuidar dela, é especialmente difícil… E o dinheiro está curto, agora que somos idosos. Um bairro verde, sossegado, com muitas praças ao redor valorizou-se enormemente, ainda que hoje se busque morar em apartamentos por segurança…
Eu diria que boa parte daqueles que, hoje, têm mais de 60 anos viveu em casas; afinal, há 50 anos, os representantes da assim chamada “classe média” não eram tão preocupados com segurança, as casas sempre tinham alguém para ajudar na “azáfama doméstica” que, muitas vezes, moravam em nossas casas, participavam da vida de todos, iam nos buscar na escola e vínhamos rindo pelo caminho todo, criando uma profunda ligação afetiva…
Hoje, a nova classe média sai em busca de um lugar bonito para morar e enlouquece com nosso bairro. Compram essas casas sem requintes de arquitetura e tratam de construir muros colossais, daqueles que só se ultrapassa com uma escada Magirus, além de ceder à moda atual, que é a de tirar paredes que dividam ambientes, tornando todos eles interligados: a cozinha com a sala, a sala com o escritório e este com o jardim, o quarto com o banheiro, com a pia e a privada fazendo vezes de peças de decoração – afinal a ordem hoje é tudo clean…
Ao passar por duas casas com dois cachorros pit bull – aqueles, recém reabilitados pela mídia e por aqueles que amam animais, latem furiosamente à passagem do meu Tito, um pequeno e invocado terrier escocês e lembro de expressões antigas, que também caíram em desuso: “é de pequenino que se torce o pepino”, expressão que cabe como uma luva para os pit bulls, ainda que eu não saiba como os pepinos são torcidos, já que eu sempre os vi retos…
Chorar as pitangas, plantar batatas, comer o pão que o diabo amassou, descascar o abacaxi, dar uma banana, liso que nem quiabo, pisar no tomate, ser um laranja, misturar alhos com bugalhos, na base do agrião… Era um jeito comum de falar que criança alguma estranharia à época, mas, hoje… Paro para pensar que desconheço a origem de boa parte delas!
E hoje, aniversário da minha difícil, porém irresistível e generosa cidade que a todos acolhe, escolho, mentalmente, treze – uma a mais para dar sorte! – rosas Tiffany perfumadíssimas e a presenteio, feliz e orgulhosa por nela ter nascido e vivido até hoje: parabéns, São Paulo!

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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