28 de março de 2024
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Viva a Democracia

O presidente Jair Bolsonaro foi eleito e eu o apoio. Mas a minha publicação declarando esse apoio – sem contar os “curtir” e “amar” que, semana passada, coloquei em postagens de amigos — rendeu-me tantos aborrecimentos que resolvi ficar quieta. Não é o meu temperamento esconder o que penso. Mas, no momento, não vale a pena falar. Os ânimos permanecem exaltados e nem todos conseguem entender uma das maiores belezas da democracia: o direito à própria opinião.

A bem da verdade, declaro que mesmo os que romperam comigo por causa de política, romperam gentilmente. Um ou outro exageraram no tom, mas eu compreendo, perder é muito desagradável. Afirmo por experiência própria. Desde 2003, administro a sensação de viver num governo que não elegi. Acreditem-me, irrita e cansa. Mas a gente sobrevive. Sofre eventuais acessos de raiva, mas sobrevive.
O que está me causando espanto é o surto de ameaças que, após o dia 28 de outubro, atrapalha o cotidiano de alguns pensantes da esquerda. Conheço pessoalmente quatro brasileiros que anunciaram “estar em perigo de vida”. Não sei se, coitados, eles sofrem de alguma doença e eu cometo uma injustiça. Mas acho que não. Os quatro vendem saúde e são pessoas normais, vivendo rotinas comuns. Estão é com dificuldade de encarar a impotência política que eu encaro há 15 anos. Já disse, dói. Mas não chega a matar.
Bolsonaro foi declarado vencedor às 22h de domingo. Às 22h01m já havia quem temesse o fim da floresta amazônica, a implantação de uma ditadura cruel, a perda de seus empregos. Também, instantaneamente, mataram negros, índios e homossexuais. Professores foram ameaçados e balas perdidas, disparadas por simpatizantes da direita, acertaram inocentes. Soube que, em nome do presidente recém-eleito, aconteceram invasões domiciliares, agressões aleatórias e, milagrosamente, fuzis AK-47 se transformaram em guarda-chuvas. Bastou um só minuto para o manto negro do medo descer sobre o coração e a mente de 87,7% da esquerda. Bem, não sei se foi sobre 87,7%, estou chutando a porcentagem. Só não quero generalizar. Também não gosto quando dizem que os eleitores de Bolsonaro apreciam gargarejar com sangue. Afirmo, com absoluta certeza, que nem todos apreciam. Eu, por exemplo, além de gourmet, sou enjoadíssima, não como nem frango ao molho pardo.
Desconfiada, vou escutando as histórias da súbita explosão de violência sem me assustar já que, há décadas, a violência mordeu os freios. Constato, assombrada, que, de novidade nos últimos acontecimentos, existe apenas a hipotética sombra do Bolsonaro. Pessoalmente, prefiro esperá-lo tomar posse para ver se realmente acontecerá tudo que parte da esquerda afirma já estar acontecendo.
No mais, desejo que o presidente Bolsonaro faça um bom trabalho para o nosso bem e o do Brasil. Mas, se não fizer, estarei aqui, de olho, para reclamar. Que bom que, em seu programa de governo, ao contrário do de seu adversário, existe a promessa de liberdade de imprensa, de pensamento e de opinião. Assim, poderei continuar usando este espaço para criticá-lo ou defendê-lo.
Viva a democracia que, afinal, não nos foi nem nos será tirada.

O Boletim

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