23 de abril de 2024
Adriano de Aquino

O medo dos anos 70'


Nos anos 70′, durante residência em Paris, as questões suscitadas por colegas estrangeiros com quem estudei, amigos e pessoas em eventuais encontros sociais, interessadas nos acontecimentos brasileiros, se concentravam sobre os desafios da sociedade em face ao regime de exceção, implantado no Brasil a partir de 1964.
Lá conheci brasileiros e pessoas que vinham de outros países. Muitos lá estavam como ‘exilados’ de fato. Se voltassem ao país de origem seriam presos.
Porém, não me lembro, em nenhuma ocasião, que tais questões e comentários, inclusive de refugiados políticos brasileiros, que transcendessem o tema em pauta. Sobretudo, porque, na ocasião as eleições dos parlamentares brasileiros se restringiam ao imperativo de dois partidos. Um de oposição (MDB) e outro governista (Arena).
Outros partidos estavam na clandestinidade, seus lideres refugiados ou presos.
Portanto, havia da parte do Estado um aparato repressivo com forma e conteúdo claro e indisfarçável que limitava as manifestações políticas contra o governo e impunha à sociedade o silêncio, suprimindo a liberdade de expressão e a democracia.
Naquele período, ‘resistência’ era o termo correto para um fato concreto.
Agora,passado tantos anos, mais de trinta anos da abertura democrática, algumas manifestações contra o governo eleito democraticamente que contou com a participação de 35 partidos políticos inscritos no TSE, onde se exerceu a liberdade de expressão, garantida pelas instituições do Estado, soa ridículo, pura mediocridade política, as farsantes alusões a ‘resistência’ contra o governo eleito.
Lendo o texto a seguir, que critica a manipulação midiática de uma histeria grupal inexplicável à luz da razão, a dimensão provinciana e retrógrada da cultura política brasileira, só encontra explicação na fragilidade das mentes abduzidas e tuteladas por ‘ideólogos’ abrigados nas creches de amparo às vitimas da prepotência e da ignorância política.
Escreve Lea Beraldo:
“Reportagem da Folha/SP de hoje assinada pelas jornalistas Fernanda Mena e Úrsula Passos tem o seguinte título:
Medo em relação ao governo Bolsonaro leva a planos de emigração.”Brasileiros críticos a Bolsonaro relatam temores sobre integridade física e futuro profissional como razões para deixar país.
Ô dó, até chorei vendo que professores vão embora já pressentindo que a escola não terá mais partido.
Vejam que dramático esses três casos:
“O professor carioca de sociologia Gustavo de Souza, 33, quer ir para o Canadá. “Só a sombra do Escola sem Partido já piorou muito meu trabalho. Sob Bolsonaro, eu me sinto ameaçado quanto à minha empregabilidade”, diz.
A pedagoga piauiense Olympia Saraiva, 40, avalia que será possível para sua família emigrar para Uruguai ou Paraguai. “Eu e meu marido sempre fomos militantes de esquerda, ativos em movimentos sociais. E, nessas eleições, nossa relação com familiares e vizinhos piorou muito. Tenho medo de sermos agredidos.”
Gabriela (nome fictício), 37, que tem uma carreira de sucesso na indústria do entretenimento, começou a procurar oportunidades de trabalho na Europa. “Com a área cultural sob ataque e a ameaça de extinção do Ministério da Cultura, não vejo como seguir atuando no Brasil.”
Se a motivação de ‘exílio voluntário’ já é estúpida, o que dizer de uma matéria que visa dar cobertura à fuga de tantos idiotas?

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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