19 de abril de 2024
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No lado esquerdo do peito

Meu sumiço de duas semanas nada tem a ver com as circunstâncias políticas brasileiras. Já anunciei o meu não-voto – infelizmente, não transferi o título para Portugal – e tenho me manifestado pouco sobre o segundo turno. Calo-me principalmente por não confiar nas urnas eletrônicas. Sabe-se se lá se, no dia 28 de outubro, elas passarão nova rasteira na estatística? Em boca fechada não entra mosca, melhor eu permanecer quieta em meu canto.
Sou medrosa juramentada. O ministro Raul Jugmann ameaçou colocar na cadeia todos os que duvidam da lisura do processo eleitoral. Prefiro não me arriscar. Meu lado prático me consola, dizendo-me que Jugmann não conseguirá prender mais de 80% da população brasileira. Não sem antes construir, a toque de caixa, muitas penitenciárias. Mas e se ele conseguir? Tenho o maior medo de barata e, nas prisões, elas pululam. Portanto, continuarei ostentando a minha cara de paisagem. Não tenho vocação para heroína.

Estou mudando de assunto. Minha intenção, nesta crônica, é explicar o meu desaparecimento. Simples, vivi um período maravilhoso em que amigos e parentes resolveram me visitar. Um atrás do outro, fizeram uma festa no meu coração. Apesar de tantas alegrias, senti-me a própria gerente de casa de tolerância. Só fazia trocar o lençol da cama, afofar os travesseiros, arejar o quarto, limpar o banheiro e abrir a porta para o novo hóspede.
Foram três semanas ótimas, amigo é tudo de bom, guardo-os no lado esquerdo do peito. Passeei muito, conversei muito, comi e bebi muito (infelizmente), ri demais. A sequência de felicidades foi fechada com chave de ouro com a chegada de meu filho, que mora na Ásia, e eu não via há sete anos. A filha dele, minha neta-maravilha, aproveitou para, com o marido, ver o pai. O casal, neta-maravilha e marido idem, mora na Alemanha e sempre me visita. Mas essa foi a primeira vez que consegui reunir pai e filha sob as minhas asas. Com tanta amor à volta, não conseguia escrever nada. Acho que os leitores entendem.
O espaço acaba e não poderei relatar o susto de ter assistido, sábado, 13 de outubro, a maior tempestade que atingiu Portugal em 150 anos. Sobrevivi, mas colocarei a experiência em meu currículo. Apesar de estar na área menos atingida, experimentei uma nova sensação.
As próximas duas semanas, vésperas do segundo turno, são de expectativas. Tentarei manter a boca fechada.
Eu morro de medo do Jugmann e tenho pavor de baratas.

O Boletim

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