24 de abril de 2024
Editorial

O inútil voto útil

Imagem: Arquivo Google – Partido Novo

O desfile de horrores apresentado no horário eleitoral revela o quanto é necessário reformar a política do país. O desconhecimento de causa e o envolvimento com atos ilícitos atestam a desqualificação de muitos dos candidatos país afora. Como indisfarçável é o despreparo de alguns demonstrado nas repetidas promessas que jamais cumpriram; o gestual bem ensaiado na narrativa diante das câmeras soa falso. Refestelados em seus gabinetes apinhados de assessores, aspones, mordomias e privilégios que afrontam os cidadãos de bem, apresentam-se agora como salvadores da pátria.
O que acontece com o país? O Estado, acéfalo, é incapaz de garantir aos cidadãos direitos mais básicos. Os congressistas fogem de suas responsabilidades e, caras de pau, apresentam se como renovados milagreiros. Os supremos juízes deliberam aumentos em seu próprio benefício, emitem sentenças suspeitas e escutam, inertes, propagandas eleitorais chamando-os de injustos. Ao vilipendiado eleitor, resta rezar para que esse pesado cenário, que conduz a uma inevitável polarização, não acabe numa triste e indesejada guerra civil.
Qualquer radicalismo é perigoso e assustador. Assusta-me o atual clima no país. Radicais de direita, radicais de esquerda e um meio de campo cheio de pernas de pau. No banco de reservas, candidatos a senadores, deputados estaduais e federais que não apresentam muitas credenciais para o jogo que precisa ser jogado. Acho que a partida está mais para jogo de várzea do que para Liga dos Campeões. Que o plantel seja melhorado o quanto antes. Precisamos de craques de verdade na nossa política!
O voto da maioria dos brasileiros não é útil, é inútil. Com uma classe política que faz da mentira sua matéria-prima, boa parcela dos eleitores encara a eleição como torneio insuflado por institutos de pesquisa, ou se guia por fanatismo amnésico instintivo. Vota sem noção, e seu escolhido raramente terá o desempenho monitorado. Passada a eleição, constatará a permanência de suas angústias, até agravadas, e aguardará o próximo torneio, quando ouvirá as mesmas falsas propostas e se empolgará de novo em ritmo de torcida. É ou não o ambiente ideal para a prática do voto inútil?
Segundo o TSE, o Brasil tem 147.302.354 cidadãos. Portanto, o meu voto vale 0,0000000068% do universo votante, ou seja, quase nada. Isso do ponto de vista da alteração do resultado do pleito, mas vale muito para a minha consciência, motivo pelo qual não usarei o voto útil. Ao menos estarei em paz comigo mesmo, fato este que não tem preço.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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