19 de abril de 2024
Sylvia Belinky

Aborto


Discutir a aprovação ou não do aborto é uma questão que não me cabe na cabeça: aprová-lo não significa torná-lo obrigatório, mas, pura e simplesmente, permitir que alguém opte por ele.
É inquestionável que as mulheres mais prejudicadas com essa atitude são as mais pobres, de menor escolaridade.
Se fôssemos objetivos, lembraríamos de um tempo em que não existia divórcio, mas, sim, uma excrescência chamada “desquite”, pois a Igreja não aceitava que pessoas casadas se separassem: “juntos até que a morte os separe”.
No futuro, ao escolher um outro companheiro ou companheira, às partes, só restava “se juntar” ou “casar na Bolívia”, algo juridicamente inválido aqui no Brasil, sem falar no imbróglio jurídico daí resultante também em relação aos filhos que viessem a ter!
Quando se aprovou o divórcio por aqui, as coisas passaram a acontecer de modo mais aberto e civilizado. Nossa prolixa Constituição diz que o Estado é laico.
Cabe às pessoas que se divorciam assumir que, para a Igreja Católica, elas são sacrílegas por optarem não levar adiante um relacionamento deteriorado.
A existência de um papa como o Papa Francisco, mais aberto, menos radical, não manda que se expulse do recinto da Igreja quem for lá rezar, mesmo sendo divorciados…
Ora, assim como a religião é assunto de foro íntimo que ninguém pode ou deve interferir ou ser obrigado a se converter, tampouco sobre o aborto as pessoas devem meter o bedelho.
É justo que o aborto esteja também ao alcance de quem não tem como alimentar mais uma boca; daquela que, sendo jovem demais para assumir uma criança, vai deixá-la ao Deus dará ou vai entregá-la à adoção…
Aprovar o aborto não significa torná-lo obrigatório, mas, sim, que quem escolher interromper sua gravidez, por motivos próprios, possa fazê-lo sem caber a ninguém arvorar-se em juiz e decidir que seus motivos não são válidos.
Ninguém fará a apologia do aborto, isso é certo, assim como ninguém fez a apologia do divórcio: trata-se de assunto de ordem íntima, de onde não ser justo crucificar a criatura que fizer essa opção nem de privá-la de sua escolha !

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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