28 de março de 2024
Ligia Cruz

Venezuelanos pelo Brasil


Hoje vi um grupo de venezuelanos queixando-se de que não há liberdade para entrar e sair do abrigo a hora que querem, pois tem horário para tudo. Que não têm auxílio médico à disposição; que nossos hábitos alimentares são muito diferentes dos deles; que eles têm problemas de mobilidade pois os locais onde estão alocados são muito distantes do centro; que eles têm dificuldades de comunicação porque não há intérpretes para compreendê-los. Isso depois de um venezuelano ter sido assassinado. Viver aqui implica em submeter-se às condições insanas de qualquer brasileiro. Problema de polícia.
Oras, fico imaginando o que meu pai enfrentou quando veio sozinho da Espanha, surdo, sem falar uma única palavra em português e sem nada do que os “refugiados” venezuelanos reivindicam. Se acomodou numa pensão em São Paulo com o que tinha no bolso e saiu em busca de trabalho, motivo pelo qual deixou toda sua família para trás. Ou mesmo meus avós maternos croatas que abandonaram o seu país após perderem tudo depois da Primeira Guerra Mundial.
Os alemães, italianos, japoneses e demais imigrantes, que buscaram no Brasil um refúgio para suas dores e uma nova pátria, vieram para trabalhar na terra, na lida pesada de sol a sol.
Contaram com apoio mínimo do governo e se ajudaram mutuamente, compartilhando o que sabiam, para sobreviver.
Agora, os imigrantes que aqui chegam recebem auxílio de todo tipo e se comportam como os mais novos mimados do país, criticando tudo o que recebem de bandeja, às nossas custas. Refugiados, coitadinhos, que esperam benesses e tudo o que sequer tinham. Ganham carteira de trabalho, alimentação, cama, banho, vestimentas e disputam vaga de trabalho como qualquer um de nós.
Saíram pelas portas laterais sem lutar contra o tirano que eles mesmos colocaram no poder. Fugiram do confronto pela busca de cidadania e deixaram o imbecil do presidente com suas dancinhas patéticas para engordar sua ganância por poder. Chaves não era “o cara”? Então, o que aconteceu com o namoro do povo venezuelano com o regime de governo que apoiou? Terminou em pesadelo? Que pena! Porque não resistiram ao invés de se resignarem com o papel de cães abandonados pelo dono?
Agora que a festa populista acabou, todo mundo debandou para a fronteira. Mais fácil do que lutar pela dignidade em sua pátria. Resistir é para quem tem patriotismo, coragem.
E vamos para a estrada, procriar e morrer pelo caminho porque assim se escreve uma saga de dar dó. Mas tem quem deixou a família lá e veio para cá, fazer qualquer coisa, vender bananas. Isso não é abandono, é sobrevivência. Exceção.
Então vamos deixar de ser hipócritas. Aqui é selva, estamos todos fazendo fogo no cascalho e comendo o que cai da árvore. Peninha zero de quem não tem culhão.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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