25 de abril de 2024
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Foi bonita a sua festa, pá


Não confundo política e arte. Vou avisando para os aborrecidos de sempre não inventarem de me criticar porque eu, uma coxinha, assisti sábado passado, no Coliseu do Porto, o show “Caravanas”, de Chico Buarque de Holanda.
Sou fã do Chico desde sempre, amo as suas músicas. O espetáculo não poderia ter sido mais lindo. O Coliseu lotado de brasileiros e de portugueses, público delirante, e o Chico emendando um sucesso após o outro. Chorei duas vezes, lembrando os meus anos dourados. Gente, sou testemunha do início da carreira dele, vi “A Banda” ganhar o festival da Tevê Record em 1966.
O fim do show foi apoteótico. Após dois retornos ao palco atendendo a plateia que queria mais, muito mais, Chico soltou a voz em “Tanto mar”, composição de 1975, que homenageia a portuguesa Revolução dos Cravos de 1974. Impossível descrever o momento. O público, em pé, cantou junto, assobiou, bateu palmas. Muita emoção, muita beleza.
Chico Buarque de Holanda é um homem elegante, elegância que ultrapassa o visual. Claro, estava bem vestido, blazer e calça escuros ressaltando o corpo magro e os cabelos grisalhos, quase branco total. Mas a elegância que destaco é a de atitude. Apesar de provocado por uma pequena parte de brasileiros que gritava “Lula Livre”, “Fora Temer”, “Cuba Livre”, etc, ele não se alterou. Em nenhum momento comentou os nossos dissabores.
Não há quem lhe desconheça a posição política. Mas, gostem ou não os mortadelas de plantão, as pessoas bem educadas “sabem estar”, como se dizia antigamente. A reação de Chico às incitações provou que ninguém nega as origens familiares. Chico é Cesário Alvim e é Buarque de Holanda, não podia mesmo tropeçar em indelicadezas.
Ao ignorar os desafios, Chico Buarque respeitou o Brasil, evitando divulgar no estrangeiro o nosso desmantelamento político. Respeitou Portugal, não trazendo para dentro de suas fronteiras a derrocada ética do gigante adormecido. Respeitou a plateia de múltiplas e variadas opiniões.
Foi bonita a sua festa, Chico, fiquei contente.

O Boletim

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