19 de abril de 2024
Priscila Chapaval

O Dia que conheci um caminhoneiro e sou grata até hoje. Obrigada a esta classe de trabalhadores!

Domingo, 17 horas numa tarde de domingo de outono. Voltávamos de Curitiba – minha irmã mais velha, meu primo mais novo e eu – ouvindo e cantando várias vezes Um dia de Domingo, sucesso na época do Tim Maia e Gal Costa.. Deu sono e fome em todos nós e em Registro paramos o meu Fiat Uno e fomos ao restaurante do posto de gasolina que era parada de caminhões de carga. Deveria ser bom pois onde tem caminhoneiro a comida ou o café na estrada era bom.
Saímos e fomos até o carro na volta para São Paulo. Viro a chave do carro e ele não dá a partida. Tento várias vezes. Nada… veio minha irmã tentar e nada… e meu primo e nada aconteceu. Bem, o carro pifou. E não havia como arrumar num domingo quase de noite.

Olhei para o lado e vi um motorista que deveria ter acabado de tomar banho no banheiro do posto e abrir a porta de um caminhão lindo, branco, enorme e com carga coberta com uma lona.
Fui perguntar se ele iria para SP. Ele disse que passaria por SP mais iria continuar a viagem até Vitoria.
Ele era gaúcho, lindo, loiro e alto, no estilo Rodrigo Hilbert. O caminhão tinha uma placa de São Leopoldo/RS. Ou seja ele já havia rodado muitos quilômetros. O moço ficou meio sem saber o que dizer se dava ou não carona para nós três. Ficou com medo de ser assaltado por nós imagino. Claro não nos conhecia e vem uma mulher pedir carona! Entendemos mas ele aos poucos foi se aproximando. Viu que nos estávamos com o carro quebrado, sem ter como consertar naquele dia. Só sei que ele voltou para o caminhão e em seguida nos convidou para seguir viagem com ele. Que emoção.
Subi na cabine daquele caminhão Intercooler limpíssimo e cheiroso como ele. Impecável. Minha irmã e eu ficamos no banco traseiro. Meu primo sentou-se no banco individual na frente ao lado do caminhoneiro.
Aos poucos fui descobrindo coisas como uma caixa de sapatos com talco Ross e agua Velva. Além de sabonete, pasta de dentes e escova debaixo do meu banco. Na frente da cabine o Intercooler possuía um cambio com 15 marchas para frente. Cada vez que ele mudava de marcha o moto fazia tchsss tchsss tchssss, parecia que estávamos nas nuvens.
Junto ao painel muitas fotos da sua esposa e do filhinho ainda pequeno. Juro que me comovi com tantas coisas tão simples e tão verdadeiras. O rapaz era super educado, trabalhador, e sentia falta da família. Carregava umas 3 toneladas de trigo. O caminhão só não bufava na subida da serra por causa das 15 marchas que não esqueço até hoje.Um molejo incrível. Não pregamos o olho nessa volta para SP. Conversamos o tempo todo e pelo menos eu estava curtindo muito andar nesse caminhão que mais parecia que eu estava num Jaguar.
Aos poucos fomos chegando em SP. Ele nos disse que teríamos que descer na Marginal porque ele não podia entrar na cidade pelo tamanho do caminhão. Eu gostaria que ele me deixasse na porta de casa só para me exibir. Boba…já era tarde e todos já estavam dormindo.
Com muita pena ele nos deixou na marginal em frente da A Hebraica se desculpando ainda por não poder nos deixar em casa.
Queríamos dar um dinheiro para ele mas não quis de maneira nenhuma. Deixamos mesmo assim na caixa de sapato debaixo do meu banco.
Fiquei adorando os caminhões Intercooler. Até hoje eu observo as placas para ver se por acaso é de São Leopoldo.
Lembrei disso hoje. Por causa da greve desses bravos caminhoneiros que eu tanto admiro. Um Viva para eles.
No final cantamos tanto um Dia de Domingo que esse dia ficou na minha memória.
No dia seguinte foram buscar meu carro no posto e ainda fiquei um bom tempo com ele. Sempre achando que poderia quebrar e voltar num Intercooler de novo.
PS. A foto é do Google. Como não tinha celular a gente não fotografava nada.

Priscila Chapaval

Jornalista... amo publicar colunas sobre meu dia a dia...

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