19 de abril de 2024
Yvonne Dimanche

Meu pai


Amigos, meu pai foi um adolescente bem comportadinho. Escoteiro, com um imenso amor pelos animais e bem tranquilo. Até que estourou a guerra e ele foi convocado.
Não lutou muito tempo, porque logo foi feito prisioneiro. Ficou muito tempo preso e se virou nos trinta. Até engordou e aprendeu alemão, mas isso não o livrou do sofrimento.
Certa vez por ter cortado a sua bota em cima de um calo que estava doendo, ele foi obrigado a pular duas horas feito sapo. Esse foi o menor dos seus problemas.
Bom, acabou a guerra e ele passou por uma fase de juventude transviada e passou a beber e fumar.
Aliás, minha família paterna sempre encheu a cara socialmente, ele não, a sua bebida era diária, mas só cerveja. No Brasil a Brahma (argh) que ele considerava a melhor do mundo inteiro e ele conheceu diversos países, tanto é que falava várias línguas.
Até que a idade chegou, enfisema pulmonar e outras complicações. Acabou a farra.
Não podia andar, tudo era um sacrifício. Praticamente desenganado, com mais de 80 anos de idade e ele resolveu fazer uma loucura: decidiu que iria beber meia garrafa de cerveja por dia.
E assim foi. Até conseguiu fazer caminhadas, ou melhor, umas voltinhas de nada. E morreu com 93 anos. Corpo humano decididamente é uma caixa de surpresas.

O Boletim

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