17 de abril de 2024
Veículos

"Flexibilizar" as emissões dos automóveis é bom para quem?


O extravagante presidente norte-americano declarou recentemente que pretende “flexibilizar” as normas sobre emissões de gases para os automóveis em seu país. As aspas que coloquei em flexibilizar ali estão para denunciar o eufemismo contido na palavra – que, na prática, quer dizer mesmo é liberar ou, no mínimo, diminuir muito as restrições. Supostamente, trata-se de (mais uma) medida populista e se destina a agradar a indústria automobilística americana, que estaria perdendo lucratividade por ter de fabricar carros menos poluentes – e mais caros, além dos próprios consumidores, que estariam tendo de pagar mais caro por isso. Mas será que mudar as regras de um jogo que teve suas regras definidas em um dos maiores acordos internacionais de todos os tempos – o do clima, firmado em Paris em 2015 – é mesmo bom para alguém?
Eu acho que não. Em primeiro lugar, porque, em se tratando de indústria e de mercado, qualquer regra o movimento que leve a se desacelerar ou – como nesse caso – a retroceder o desenvolvimento tecnológico é ruim, tanto para as empresas, quanto para os consumidores. A verdade é que, para diminuir as emissões dos automóveis, as montadoras têm investido com seriedade e desenvolvido motores muito mais eficientes, precisos e proporcionalmente mais potentes. deixar de lado, ainda que parcialmente, essa evolução não só vai defasar a indústria americana em relação à da Europa e da Ásia (que vão continuar a respeitar o acordo), como vai queimar (ops!) a sua imagem em todos os mercados – inclusive o doméstico. É como se, de repente, as lojas passassem a vender carros 0 km de 10 anos atrás (sem nenhum charme de antiguidade).

Além disso, nos EUA os estados têm autonomia constitucional para definirem as regras sobre as emissões dos veículos e a Califórnia, onde elas já são atualmente mais rígidas que em outras unidades da federação, já avisou que não vai acatar a mudança. Como outros estados, como o de Nova Yorque, seguem os californianos nesse assunto, isso significa que pelo menos um terço do país vai continuar a exigir carros cada vez mais “limpos”. Isso para não falar nos outros países, como os europeus, que importam automóveis americanos, mas também têm regras restritivas.
Notaram que eu sequer mencionei as mudanças climáticas nos parágrafos acima? Nem precisei, mas, nos dias de hoje, negar que as emissões de carbono têm influência direta no aquecimento global, depois de tantas evidências e estudos, equivale a dizer que cigarros não fazem mal à saúde ou que o homem não chegou à Lua. Algo que soa tão ultrapassado (e absurdo) como esses carros movidos a vapor que ilustram este post. E também tão ruim para nossa saúde (e para o futuro da humanidade) como o ar na foto abaixo.

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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