28 de março de 2024
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Marielle Franco

A execução de Marielle Franco deveria ser um momento de inflexão na política nacional. Deveria. Infelizmente, não foi. De longe, do outro lado do Atlântico, tenho a sensação de que poucas pessoas entenderam a gravidade do que aconteceu.

O recado foi claro. Os bandidos, os grandes bandidos – não me refiro aos aos traficantes das favelas, seres descartáveis, morre um, entra outro, a engrenagem de corrupção continua funcionando – avisaram que é bom cada macaco ficar em seu galho, eles não estão interessados em sofrer prejuízos.
Os projéteis que mataram a vereadora desafiaram o Estado e feriram todos os poderes. Sobre o crime e as suas motivações muito já se escreveu. O que quero comentar é a reação dos políticos e da sociedade que, num momento tão dramático, saíram às ruas e ocuparam as redes sociais para exibir a mediocridade que virou a marca registrada do Brasil contemporâneo. Metade atacou a honra pessoal de Marielle. A outra metade, exatamente a que deveria tê-la defendido, reduziu a sua morte ao esgotado clichê de “negra, pobre e favelada”. O próprio partido a que ela pertencia minimizou a importância política do crime.
Quem morreu não foi uma negra, pobre e favelada, que, segundo um poeminha tolo que li no Facebook, tinha ousado invadir a sala para contestar “os dotô”. Quem morreu foi uma representante do poder legislativo e de quase 47 mil cariocas que nela votaram e que, violentamente, perderam a voz.
Quem morreu foi uma política em ascenção, dona de discurso forte, que defendia ideias que não são as minhas, mas as defendia com dignidade e valentia. Marielle morreu para avisar que o crime organizado pretende continuar trabalhando em paz.
Gostaria que as pessoas não fossem tão lineares. Gostaria que entendessem que, com o corpo de Marielle, toda a sociedade foi encurralada. Gostaria que nos uníssemos para atacarmos a hidra que saiu do pântano, confiante de que as suas muitas cabeças são realmente indestrutíveis .
Gostaria, mas sei que isso não acontecerá. Somos ignorantes demais para abandonarmos o discursinho político de quinta categoria que constrói o nosso mundinho míope.
Quanto a mim, quero que todos os bandidos – os da zona sul e os das comunidades, descalços, engravatados, maiores, menores, pretos, brancos, amarelos e azuis – sejam punidos com rigor.
Inclusive os maiorais que mandaram executar a vereadora Marielle Franco.

O Boletim

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