29 de março de 2024
Sergio Vaz

Melhorou mesmo. Acabou a recessão

O crescimento de 1% do PIB em 2017 oficializa o fim da era PT.

Agora é oficial: acabou a recessão.
O Produto Interno Bruto do Brasil cresceu 1% em 2017, segundo o IBGE divulgou na quinta-feira, 1º/3.
Foi o primeiro crescimento anual do PIB depois de a economia ter enfrentado retração, encolhimento, perda em 2015 e 2016.
É pouco: 1% é pouco, e o buraco é grande. O país levará três anos para retornar ao nível pré-crise, destacou O Globo. “Ao crescer 1% em 2017, a economia brasileira decretou o fim da recessão, e as projeções apontam para uma expansão mais forte a partir deste na”, diz a reportagem de Daiane Costa e Marcelo Corrêa. “Mas o estrago feito pelos dois anos seguidos de recuo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro farão com que todo o crescimento registrado até 2020 só sirva para recuperar as perdas deste período. Isso significa que o país só voltará a crescer efetivamente a partir de 2021, tendo perdido seis anos.”
O Brasil ainda está na lanterna da expansão global, titulou o Estadão. No ranking da agência Austin Ratings, entre 45 países, o Brasil está em 45º lugar – mas tem boas chances de subir nada menos de 25 posições este ano, segundo o economista Alex Agostini, da Austin.
“Investimento cai 1,8% e atinge a menor proporção desde 1996”, acentua O Globo, logo abaixo da manchete da edição de sexta, 2/2: “PIB cresce 1%, e país precisa de mais 3 anos para se recuperar.”
Pois é: 1% é pouco.
“Foi pouco, mas é o fim oficial da recessão. Em cada trimestre do ano passado a crise foi cedendo até chegar a 2,1% de alta em comparação ao último trimestre de 2016”, escreveu em sua coluna no Globo Míriam Leitão, um dos mais respeitados textos do jornalismo econômico brasileiro.
Crítica ácida, dura, implacável dos tantos erros do governo Michel Temer, mas fiel à verdade dos fatos e dos números, Miriam Leitão coloca todos os pingos nos is:
“A recessão começou no governo Dilma e nele chegou ao seu pior momento. Se a conta for feita em quatro trimestres comparados a quatro trimestres anteriores, o fundo do poço é -4,6% no segundo trimestre de 2016, quando a ex-presidente sofreu o impeachment. Na política, os fatos serão narrados de outra forma, mas os números são teimosos e ficarão com suas séries históricas a mostrar o que houve nesta queda da economia.”
O governo Dilma enfiou o país na maior recessão que o país já teve. O governo Temer, com a equipe econômica chefiada por Henrique Meirelles, tirou o país da recessão. Simples assim.
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Esse crescimento de 1% do PIB – embora pequeno – é o número final, definitivo, cabal, a demonstrar que as coisas melhoraram, desde que Dilma Rousseff deixou de cavar o poço sem fim em que colocou a economia do país.
Mas os últimos dias foram pródigos em outros bons números da economia. Registro alguns deles aqui:
* O país cria 77,8 mil empregos no melhor janeiro em 3 anos. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostram recuperação das vagas formais no mês; indústria e serviços lideram a melhoria.
Foi o primeiro janeiro no azul desde 2014. Outro dado que também chama atenção é que a taxa acumulada em 12 meses, ou seja, tudo que foi gerado ou perdido de vagas nesse período de um ano, voltou para a ficar positiva.
As informações são do Estadão e de O Globo. Neste, Alvaro Gribel lembra que a situação do emprego ainda é dramática: “O mercado de trabalho está dando sinais de melhora. O grande problema é que há uma massa enorme de desempregados no país, 12,69 milhões de pessoas, e quem está desempregado tem pressa. O ritmo de recuperação precisava ser mais forte.”
* A recuperação se espalha e chega a mais de 60% dos setores da indústria. Levantamento do Iedi, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, mostra que o crescimento da indústria em 2017 começou a se disseminar para além da indústria automotiva, que foi a principal responsável pelo avanço. Dos 93 segmentos, 58 apresentaram resultados positivos. (Estadão, 27/2.)
* O IPCA-15 de fevereiro, prévia do indicar oficial da inflação, teve a menor variação para aquele mês desde 2000, ao subir apenas 0,38%, puxada por educação e combustíveis. (Estadão, 24/2.)
* A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 4,9 bilhões em fevereiro, o melhor resultado para o mês desde 1989. (Estadão, 2/3.)
* “A venda de veículos novos no Brasil cresceu 15,67% em fevereiro ante igual mês do ano passado, para 156,9 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.” (Estadão, 2/2.)
* A arrecadação vai a R$ 155,6 bilhões, o melhor resultado para janeiro desde 2014. A melhora nas atividades da indústria e do comércio garantiu alta de 10,12% em janeiro em relação a janeiro de 2017. A reação do mercado de trabalho também já começa a se refletir nos cofres do governo, com aumento da receita da Previdência. (Estadão, 27/2.)
* As contas públicas têm em janeiro o melhor resultado em 22 anos, com superávit primário de R$ 31,07 bilhões. Isso significa uma alta real, já descontada a inflação, de 67,8% em relação a janeiro de 2017, quando o superávit foi de R$ 18 bilhões. (O Globo, 28/2.)
* “Alta da arrecadação em janeiro gera superávit primário recorde. Resultado de R$ 46,9 alimenta otimismo da equipe econômica.” (O Globo, 1º/3.)
* “País recebe US$ 6,5 bilhões em investimento estrangeiro. Entrada de recursos em janeiro supera previsão do Banco Central.” (O Globo, 27/2
* As vendas de imóveis crescem 9,4% em 2017. Depois de dois anos de retração, o mercado imobiliário deu os primeiros sinais de recuperação no ano passado. (O Globo, 27/2.)
* O valor de mercado da Eletrobras passou de R$ 8,63 bilhões em fevereiro de 2016 para R$ 34,15 bilhões em fevereiro agora deste ano. Mais que triplicou, quase quadruplicou.
O valor da Petrobras passou, neste mesmo período de 2 anos, de R$ 78 bilhões para R$ 293 bilhões. Um aumento de 272%.
Esses números das duas maiores estatais brasileiras estão na coluna de Miriam Leitão na edição de quarta, 28/2, de O Globo. É uma coluna antológica, para ser guardada, mostrando o imenso salto que foi possível dar com a saída do PT do governo federal e uma gestão competente e sem influências políticas nas empresas. A íntegra da coluna vai transcrita mais abaixo.
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Quem fez a recessão
Por Míriam Leitão, O Globo, 2/3/2018.
A recessão acabou, mas deixou um exército de desempregados do tamanho da cidade de São Paulo, a economia ferida e o país menor. A economia começou a cair no meio de 2014 e a queda foi de 5,6% no último trimestre de 2015. Essa recessão foi feita pela política econômica do PT e pelas decisões da presidente Dilma Rousseff. Os números provam de quem é a culpa pelo desastre.
Qualquer que seja a forma de comparação, sempre se chega à mesma conclusão: a recessão começou no governo Dilma e nele chegou ao seu pior momento. Se a conta for feita em quatro trimestres comparados a quatro trimestres anteriores, o fundo do poço é -4,6% no segundo trimestre de 2016, quando a ex-presidente sofreu o impeachment. Na política, os fatos serão narrados de outra forma, mas os números são teimosos e ficarão com suas séries históricas a mostrar o que houve nesta queda da economia.
O IBGE divulgou que o PIB cresceu 1% em 2017. Foi pouco, mas é o fim oficial da recessão. Em cada trimestre do ano passado a crise foi cedendo até chegar a 2,1% de alta em comparação ao último trimestre de 2016. A agropecuária foi decisiva nessa volta do fundo do poço. Cresceu 13% no ano passado.
A economia está saindo poli-traumatizada da recessão. Nas outras duas grandes quedas, a do governo militar, no começo dos anos 1980, e a do governo Collor, no início dos anos 1990, a recuperação foi mais forte. Em 1993, na presidência de Itamar Franco, o país cresceu quase 5%. Desta vez, há uma massa grande demais de desempregados e um abismo fiscal.
A atuação da equipe econômica estancou a piora das contas públicas. Não reverteu a crise, mas ela parou de piorar. Não foi possível, contudo, usar a política fiscal para estimular o crescimento, por isso a política monetária foi a grande propulsora. O BC restabeleceu a confiança na política de metas, derrubou a inflação e reduziu os juros ao menor nível da história. O governo Temer, apesar de seus muitos defeitos e erros, acertou na economia e o resultado foi que o país saiu da recessão e com perspectiva de um crescimento perto de 3% este ano.
A análise objetiva dos dados e dos fatos não deixa dúvidas. O governo Dilma seguiu o cardápio do que não fazer: manipulou preços e tarifas, fez rombo fiscal, mascarou a contabilidade pública, aumentou a dívida, achou que tinha inventado uma nova política macroeconômica. Colheu uma inflação alta e uma queda do PIB. A escolha desse caminho começou no segundo mandato do ex-presidente Lula. No seu último ano, o país crescia 7,5%, mas já havia iniciado a expansão dos gastos, dos subsídios exorbitantes para a elite do empresariado, e dos investimentos sem retorno em empresas como a Petrobras.
No governo do PT a máquina de destruição de empregos foi ligada. A taxa de desemprego começou a subir no começo de 2015, quando o número de pessoas sem trabalho era de 6,7 milhões. Dima deixou o governo com 11,4 milhões de desempregados. A economia estava em queda, e o desemprego continuou a subir. Os efeitos de erros econômicos dessa dimensão não se revertem em pouco tempo. A reforma trabalhista pode não trazer os benefícios que promete, mas ela não é culpada pelo atual estado do mercado de trabalho. Foi aprovada em julho do ano passado e entrou em vigor em novembro. Nem teve tempo de fazer efeito.
A indústria caiu por 13 trimestres seguidos começando no segundo tri de 2014 e voltou a crescer apenas na segunda metade do ano passado. A construção civil caiu por 15 trimestres e ainda não achou o chão. O investimento caiu por 14 trimestres e todo o gasto público no Programa de Sustentação do Investimento não evitou a queda.
O governo Temer tem parcela da responsabilidade na crise principalmente pelos erros políticos. Se não os tivesse cometido, a recuperação teria sido mais rápida, a reforma da Previdência já estaria aprovada, e os sinais não seriam tão ambíguos. O mesmo governo que faz uma boa administração do Tesouro negocia com a base descontos bilionários em dívidas tributárias. Mas foi o governo anterior que jogou o país no buraco do qual a atual equipe econômica e o Banco Central conseguiram tirar. Contudo é apenas a recuperação, e não o início do crescimento sustentado. (Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
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O salto da energia
Por Míriam Leitão, O Globo, 28/2/2018
Petrobras e Eletrobras, hoje, valem R$ 240 bilhões a mais do que há dois anos. Esse é o aumento do valor de mercado nas duas companhias com a mudança de gestão e a perspectiva de privatização da estatal do setor elétrico. As duas vivem uma revolução desde a mudança do comando, com o fim das nomeações políticas para a direção, e a redução da interferência estatal.
A Eletrobras, em 26 fevereiro de 2016, valia R$ 8,63 bilhões. Dois anos depois, em 26 fevereiro de 2018, a estatal está sendo avaliada na bolsa por R$ 34,15 bilhões, segundo estudo feito por Einar Rivero, da Economática. A empresa quase quadruplicou o seu valor de mercado, com um aumento de R$ 25 bilhões. Nesse período, ganhou 20 posições entre as maiores empresas da bolsa, saindo de 35º lugar para 15º. Com a Petrobras, o efeito é ainda mais impressionante. Nesses dois anos, a companhia saltou de R$ 78,56 bilhões para R$ 293 bilhões, na mesma comparação. Um aumento de R$ 214 bilhões ou 272%.
A Petrobras recuperou o que perdeu desde o início da crise da Lava-Jato, em valor de mercado, e a Eletrobras hoje vale 70% do seu patrimônio líquido, o maior percentual desde que entrou na bolsa. Em parte, isso é resultado do bom período da Bolsa, que tem elevado essas e outras ações, mas a maior explicação foi a mudança de gestão e a perspectiva de privatização, no caso da Eletrobras.
Em todas as duas empresas o que tem havido desde o fim do governo anterior é a redução do intervencionismo. Na Petrobras, os preços dos combustíveis passaram a seguir os parâmetros internacionais. O congelamento da gasolina chegou a provocar um prejuízo de US$ 40 bilhões à empresa, segundo Adriano Pires, do CBIE. Além disso, houve a intromissão do governo forçando a empresa a assumir investimentos que levaram a enormes prejuízos, como a refinaria Abreu e Lima, um dos focos da corrupção. Agora os diretores não são indicados mais por partidos, a empresa implantou um novo sistema de governança e as decisões de investimento não são tomadas no Planalto. A Petrobras está também realizando um programa de venda de ativos, que tem reduzido seu tamanho, diminuído sua dívida e aumentando o seu valor.
A Eletrobras desde sempre foi pasto para os indicados do PMDB e chegou a um ponto em que a empresa estava quebrada e sem capacidade sequer de gerar um balanço. O processo não acabou. Ela ainda é assediada por partidos da base. Até as distribuidoras do Nordeste e Norte, que são rombos ambulantes com data certa para serem vendidas ou liquidadas, continuam sendo objeto de disputa política. A presidência da Eletrobras, contudo, foi entregue a um profissional de mercado, e não mais a indicado político, e o processo de privatização vai blindar a companhia contra futuras interferências.
Segundo um funcionário do setor, na distribuidora do estado do Amazonas, o custo da ineficiência em um ano consome o que 35 anos de boa gestão conseguiria poupar. Agora, essas seis últimas, e super-deficitárias empresas de distribuição, serão vendidas. A Eletrobras terá que arcar com a dívida no valor de R$ 20 bilhões, mas acha melhor isso do que continuar carregando as empresas. Se até o dia 30 de abril não se conseguir vender, elas terão que ser liquidadas. O setor de energia está mudando profundamente. (Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

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