18 de abril de 2024
Erika Bento

A justificativa do erro

Amigos d’O Boletim. Após sei lá quanto tempo sem mandar nem sinal de fumaça para vocês, volto com uma reflexão pertinente. Tenho um motivo pessoal para tal, mas nada impede que se encaixe com a realidade que vivemos em todo o nosso país.

Dia 31 de Julho, serão julgados, em Poços de Caldas (MG), os médicos acusados da morte de Paulinho, meu enteado morto aos 10 anos, em um hospital, para fins de retirada ilegal de órgãos. Eles são acusados de homicídio doloso e podem pegar até 20 anos de prisão. Quem acompanha a história sabe da luta que enfrentamos há 14 anos para ver a justiça ser feita. Pois bem. Os médicos serão julgados por juri popular, o que é um risco muito grande em uma cidade pequena. Pessoas podem ser manipuladas facilmente. Portanto, deixo aqui uma mensagem sobre o risco de se julgar erroneamente uma pessoa e não um ato.

Eu não acredito no mal ou no bem absoluto. Pessoas boas podem cometer atos terríveis, assim como pessoas cruéis podem amar e serem amados. Por isso, não aceito frases como “fulano sempre foi tão bom, não acredito que ele tenha feito isso”. Acreditem, ele pode ter feito.

Você mandaria matar o estuprador da sua filha? Isso faria de você um mandante de assassinato. Você sonegaria impostos? Isso faria de você um criminoso financeiro. Você daria abrigo a um amigo que atropelou alguém e fugiu? Isso faria de você um cúmplice.

O fato de homicidas, corruptos, estupradores, batedores de carteira ou assassinos de animais terem pessoas que os protejam e que os defendam, diz apenas que eles têm amigos e pessoas que os amam, mas não fazem deles inocentes de seus atos.

Hitlher amava sua cadela Blondi, e ela a ele. Foi admirado e seguido por milhares de pessoas e odiado por milhões. Osama Bin Laden também tinha família e pessoas que o amavam. Sadam Hussein, idem. Tiranos conhecidos da história foram adorados e seguidos fielmente.

Nem precisamos ir muito longe. PT, Lula, Dilma, José Dirceu e todo o grupo que constantemente saqueiam o nosso país ainda são adorados e defendidos por muitos. Por conveniência, por amizade ou por convicção política. Mas estes testemunhos, de novo, falam apenas sobre o que eles são para estas pessoas, não sobre os crimes que cometeram.

A questão diante de um crime não é se são pessoas amadas, pais de família responsáveis, atenciosos donos de animais de estimação ou se choram para o seu público. Diante de um crime, um ato contra a lei, não importa quem seja, a lei deve ser cumprida assim como a sua pena.

Ser gay, no Brasil e em grande parte do mundo, é uma escolha a ser respeitada. Em países muçulmanos é crime passível de morte. Ter relações sexuais com uma criança é pedofilia, um crime em grande parte do mundo (no Brasil é considerado hediondo, sujeito de oito a até vinte anos de prisão). Nos países muçulmanos, por outro lado, é direito do homem ter uma esposa de nove anos de idade.

Um enfermeiro que mata pacientes terminais, no Brasil, comete crime, mesmo que ele alegue intenção de aliviar o sofrimento alheio. Edson Isidoro e Virginia Soares, enfermeiros brasileiros acusados de matar centenas de pacientes em hospitais (por pena ou para liberar leitos) viveriam suas vidas tranquilamente na Suíça, Bélgica, Holanda, entre outros países, onde a eutanásia é legalmente aceita.

Fato é que, diante de um ato ilegal, criminoso, se a justiça não é feita sem distinção de raça, cor, religião e classe social, não é justiça. É julgamento moral, étnico, religioso ou político.

O brasileiro precisa acordar para o perigo da justificação do erro ou seremos sempre sujeitos a governos que nos roubam ou médicos que matam. Porque é mais fácil ser tolerante do que lutar pela justiça e pelo direito.

artigo publicado em 12/09/2014

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