23 de abril de 2024
Maria Helena

A Valsa

A Valsa, de Camille Claudel (Musée Rodin, Paris/Divulgação)

Não gosto de nos ver, nós mulheres, no papel de vítimas impotentes, incapazes de nos defender, não a poucos anos do fim do primeiro quartel do século 21
Do caso Harvey Weinstein, o célebre produtor americano que há vinte anos convida atrizes para irem ao seu apartamento em bons hotéis discutir sobre os filmes que elas querem estrelar e que, lá chegando, consegue, ou pelo menos tenta, violentá-las, surgiram não sei quantas acusações de abusos, alguns medonhos. Mas fica uma dúvida: nesse tempo todo, nenhuma foi ao distrito mais próximo prestar queixa? Ou deu uma declaração à imprensa dizendo que não queria mais fazer aquele filme porque o preço era muito alto?
Seriam todas tão bobinhas a esse ponto?
Não gosto de nos ver, nós mulheres, no papel de vítimas impotentes, incapazes de nos defender, não a poucos anos do fim do primeiro quartel do século 21. Acho mais do que humilhante, acho hipócrita.
Por exemplo, o que é que impede uma mulher de protestar em voz alta dentro de um vagão de metrô? A passividade das mulheres é o maior estímulo à ação nojenta de indivíduos que nos achando umas tontas, grudam em nossos corpos. Já vi mulheres reagirem aqui, em Paris e em Londres e vi os agressores saírem rapidinho do vagão, com a cara de ratos que têm e sob vaias e apupos. E assim é que deve ser.
Claro que não me refiro às adolescentes, inexperientes, que ficam com medo do escândalo e “do que os outros poderão pensar delas”. Aí é que entra o que mais faz falta no Brasil: instrução, orientação. Mães, avós ou tias atentas que ensinem às suas crianças o que fazer diante de imbecis que as queiram importunar e que nunca, jamais, tenham medo de gritar por socorro!
Mas por causa de um punhado de safados, não vamos agora aceitar a ideia abstrusa de que flertar e agarrar são a mesma coisa. Não são. É bom ficarmos bem atentos: a quem interessa esse puritanismo rasteiro? Querem acabar com a sedução, com a conquista, com as relações homens/mulheres?
Já vivi muito, já morei em grandes e boas cidades. Viajar é meu hobby favorito e não viajo mais como costumava viajar primeiro porque a saúde anda complicada e segundo porque o dinheiro anda curto. Já me emocionei diante de certas obras de arte, já me apaixonei por aldeias europeias. Ler é outra paixão. Ver bons filmes também. Mas nada, nada mesmo se compara a namorar…
Catherine Deneuve, a lindíssima e sagaz atriz francesa está sendo muito criticada por defender, como eu defendo, o direito dos homens paquerarem as mulheres que despertam sua atenção. Qual será a intenção? Que o relacionamento homem/mulher só nasça nas gélidas redes sociais? Deus nos livre e guarde… Com quem iríamos compartilhar as delícias de uma valsa?
Fonte: Blog do Noblat

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