28 de março de 2024
Maria Helena

Obra-Prima do Dia: Arquitetura: Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto

Igreja de são Francisco de Assis na linda paisagem de Minas (Foto: Divulgação)

Falo hoje da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, cuja construção teve início em 1776. E, portanto, falo de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, escultor, e de Manuel da Costa Ataíde, pintor.
O primeiro, um gênio, autor do projeto arquitetônico, do risco da portada, dos elementos ornamentais, dos púlpitos, do retábulo-mor e do teto entalhado da capela-mor.
O segundo, o magnífico pintor do forro da nave, em forma de gamela, com pintura que representa a Assunção de Nossa Senhora da Conceição, padroeira dos frades franciscanos. A revoada de anjos que acolhe Maria é de uma beleza emocionante: são crianças, jovens e adultos, todos mulatos e músicos.

A Assunção de Nossa Senhora da Conceição por Manoel da Costa Athaíde (Foto: Divulgação)

Considerada uma das obras-primas do barroco brasileiro, além de ser uma das maiores realizações do Aleijadinho (1730 – 1814), a Igreja é uma das raras construções em que o projeto, a obra escultórica e a talha são de autoria de um mesmo artista, o que confere grande unidade e harmonia ao conjunto. Não há descompassos entre arquitetura e ornamentação. Mesmo a pintura e o douramento – do forro, retábulos e laterais -, sob a responsabilidade de Manoel da Costa Athaide (1762 – 1830), encontram-se em perfeita sintonia com o conjunto.
A encomenda do risco para a igreja, feita ao então jovem escultor, arquiteto e entalhador, se efetiva em 1766, logo após a morte do pai do artista, importante arquiteto e mestre de obras local.
O Aleijadinho altera o plano primeiro da igreja, arredondando-lhe as torres e elaborando novo frontispício e ornamentos para as fachadas, que se enriquecem em graça e detalhes pela maestria com que maneja a arte do cinzel.

A maravilhosa obra do Aleijadinho (Foto: Divulgação)

Como já foi dito aqui, o que não nos falta são belíssimos exemplos da Arquitetura Barroca. Temos esplêndidos mosteiros, conventos e igrejas em muitas cidades do Brasil. Cidades inteiras tombadas como bens preciosos para toda a Humanidade.
Não era possível, vocês hão de convir, mostrar em poucos dias imagens das lindas igrejas que temos espalhadas por nosso imenso país. Tive que escolher e escolher nunca é tarefa fácil. Mas como ainda voltaremos um dia a falar da riqueza barroca do Brasil, é só ter um pouco de paciência.
Sobre o impacto que essa igreja causou em Carlos Drummond de Andrade, copio aqui seu poema “São Francisco de Assis”:
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.
Senhor, não mereço isto.
Não entrarei, senhor, no
templo,seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.
Dai-me, senhor, a só beleza
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se dor de homem
Paralela à das cinco chagas.
Mas entro e, senhor, me perco
na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
Por que esta nova cilada?
Senhor, os púlpitos mudos
entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.
Perdão, senhor, por não
amar-vos.
Fonte: Blog do Noblat

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