20 de abril de 2024
Sylvia Belinky

Despedidas


Outro dia, ouvindo uma atriz maravilhosa sendo entrevistada num raro programa ótimo da TV aberta, ela comentou que, quando tinha cerca de 7 anos, ouviu de seu avô uma frase que, na época, lhe pareceu estranha: “Meus amigos estão morrendo feito moscas”. E ficou imaginando como se daria esse evento tão… esquisito!
Bem mais velha hoje, repetindo a frase do avô, disse que mais do nunca a entendia: ela a vivenciava!
Tendo eu perdido dois grandes amigos no curto espaço de 6 meses, vi que essa realidade acaba atingindo a todos.
E, nos velórios, duas coisas me fizeram pensar muito. A primeira, o fato de que os parentes me agradeceram por ter ido. Minha noção de agradecimento está bastante ligada a um favor, mas, no caso, eu não fiz favor algum, apenas fui me despedir dos amigos queridos, tentando me convencer de que era verdade, de que eu não mais os veria.
Tendo ido sem pressa, pude descobrir, nas conversas ouvidas aqui e ali, que eu havia perdido uma pessoa e, cada uma das pessoas ali, outra. Ninguém parecia conhecer determinadas facetas, medos, idiossincrasias que nós dois compartilhávamos. Por outro lado, eu ouvia falar de características que, mesmo ao longo de décadas de convivência próxima, eu nunca tinha notado… Existiriam de fato?
Assim como os rituais para o velório são diferentes em cada religião, sendo o mais evidente o fato de os católicos manterem o caixão aberto e os judeus o manterem lacrado, cada uma das pessoas presentes perdeu uma pessoa diferente, o que corrobora a nossa sensação de termos perdido alguém muito especial…
Fico me perguntando se daqui a 40 anos as pessoas ainda continuarão a encontrar as outras para simplesmente estar junto de outras igualmente tristes e lamentar a perda de alguém especial.
E quando digo isso, eu me refiro a alguém que não seja uma celebridade, nem tenha um blog ou centenas de seguidores na Internet, mas, simplesmente, alguém muito querido, um amigo desses que a gente, sempre que encontra é como se tivéssemos estado juntos… na véspera!

Sylvia Marcia Belinky

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

Tradutora do inglês, do francês (juramentada), do italiano e do espanhol. Pelas origens, deveria ser também do russo e do alemão. Sou conciliadora no fórum de Pinheiros há mais de 12 anos e ajudo as pessoas a "falarem a mesma língua", traduzindo o que querem dizer: estranhamente, depois de se separarem ou brigarem, deixam de falar o mesmo idioma... Adoro essa atividade, que me transformou em uma pessoa muito melhor! Curto muito escrever: acho que isso é herança familiar... De resto, para mim, as pessoas sempre valem a pena - só não tenho a menor contemplação com a burrice!

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