20 de abril de 2024
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Inguinorançias

Até a data de hoje, eu pensava que era só fascista, nazista, elitista, conservadora, preconceituosa, racista, direitista, homofóbica, ignorante e burra. Como fui tola. Na verdade, acho que morri e esqueci de deitar. Talvez seja um zumbi, uma excrescência com um pé aqui e outro no além. Ando me sentindo estranha em meu próprio planeta. Sensação desagradável, não reconheço mais o meu entorno, apesar de continuar zanzando de lá para cá. Horrível, sério.

Mas não sei se preferia continuar viva tendo que bancar a muderninha e concordar com o monte de patacoada que vejo acontecer. É a mãe que nunca quis ter filho e, quando soube da gravidez, pulou revoltada da mesa ginecológica com o aparelho de ultrassom vaginal ainda dentro do corpo, decidida a, imediatamente, fazer um aborto. Sei lá por quais motivos, deixou o tempo rolar. Hoje tem um pirralho de um ano e vinga-se do xereta que lhe atrapalhou a vida festiva, vestindo-o de palhaço para exibição em praça pública.
Também existe a mãe ixperta, que transa arte erótica do “corpo-matéria que se funde, colide, atravessa outras matérias”. Uaaauuu, super cool. As palavras, coitadas, às vezes são obrigadas a fazer um papel ridículo, não entendo o que esta valorosa mamãe pretende. Mas deve ser algo metafísico, reservado apenas aos eleitos. Vai ver que é o motivo pelo qual a sua filhota de seis, sete anos, rindo nervosamente, sentiu-se obrigada a tocar um homem nu, deitado narcisicamente de barriga para cima para exibir a macheza.
Sou um horror de atrasada, uma espécie de Tironassauro Rex que, por acaso, sabe alinhavar umas mal traçadas linhas. Apesar de pré-histórica, confesso: nada tenho contra a nudez. Até proponho que o MAM exiba uma suruba artística, todo mundo sem roupa, todo mundo comendo todo mundo, e os espectadores aplaudindo a performance mais original. Ao som de A Cavalgada das Walquírias, de Wagner, e com helicópteros da PM sobrevoando e ameaçando metralhar os casais homos, heteros, trans, tris, cis, bis e qtos mais houverem. Vamos admitir, seria impactante. Arte mais ultra-pós-moderna, c´est pas possible. Mas, por favor, deixemos de fora as crianças. Elas são seres delicados e sensíveis. Antes de certa idade, não precisam saber que a PM tem helicópteros.
No meio de tudo isto, também me irrito com alguns coleguinhas, que respeito. São ótimas pessoas, ótimos profissionais, ótimos pais, ótimos avós. Mas fazem o papelão de defender o surto de nudez – o novo bicho-papão da meninada bem alimentada do Brasil, criança pobre está farta de ver gente despida – para não passar recibo de nazistas e fascistas, como eu não me avexo de passar. Em tempo, duvido que esses coleguinhas deixassem as suas crias participar daquele espetáculo grotesco. Du-vi-de-ó-dó.
Sinto-me sobrando no mundo. É duro ser fascista e não ser cega, enxergar claramente tudo que a autoproclamada inteligentiza brasileira também enxerga, mas finge não ser com ela.
Cansaço, viu? Sou fascista, mas não sou burra. Detesto inguinorançias.

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