19 de abril de 2024
Ligia Cruz

Patada no peito

Foto: Polícia Federal

Acordei com uma sensação de dèjavu ao deparar-me com a primeira foto nos jornais de hoje. Me vi na infância lendo gibi, aquele da Disney, onde muitos são patos, outros cachorros, ratos etc.
Um dos mais memoráveis personagens era o Patinhas, velho pato sovina, que povoa as lembranças daqueles que hoje contam com seus 50, 60 anos e riram muito com aquelas histórias. Talvez seja o mais educativo exemplo de mesquinhez entre personagens de histórias em quadrinhos.
Tio Patinhas fazia inveja em todos porque era um milionário bem sucedido, assombrosamente sortudo, devido à posse de um poderoso talismã, a moeda número 1. O velho pato curava sua depressão com mergulhos em sua Caixa Forte e saia de lá felizinho, para enriquecer ainda mais.
Era um digno representante da elite de Patópolis, dono do jornal “A Patada” e patriarca da família de sobrinhos trapalhões.
Todos ambicionam a riqueza do Tio Patinhas e fazem de tudo para roubar a moeda da sorte, a razão de sua riqueza. Mas isso é lá coisa do genial Walt Disney.
Quando o sonho acaba e a ficção vira vida real, a foto com as caixas e malas de dinheiro em um apartamento de Geddel Vieira Lima confunde a razão e joga um banho de água fria na ficção. O personagem nefasto da Patolândia Brasil foi ministro, vice-presidente de banco estatal e nadou de braçada nos cofres públicos nos últimos dois governos e, neste, embora afastado por denúncia de corrupção, continuava a abastecer seu cofre particular com dinheiro público. A montanha é tão grande que sete máquinas não dão conta de somar. Patinhas seria desbancado facilmente do ranking de ricaços, mesmo com talismã.
Até agora são mais de 50 milhões e ainda não acabou. Produto de crimes contra o cidadão brasileiro.
O mais incrível é que Geddel está cumprindo prisão domiciliar, como tantos outros corruptos, e sem tornozeleira eletrônica, porque na Bahia não tem.
Acordar com a imagem de tamanha roubalheira não tem nada de engraçado. Um escárnio contra a nação, cansada de tanto desprezo e imundície. Somos todos um bando de patos sem lagoa, sem saúde, sem empregos, sem casa própria, sem horizontes, sem vida digna. Melhor voltar para o gibi porque os personagens da vida real são deprimentes.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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