29 de março de 2024
Ricardo Noblat

Temer, sem votos para governar

Temer, pato manco (Foto: Arte: Antonio Lucena)

Ao negar licença para que o presidente da República pudesse ou não ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal por crime de corrupção passiva, a Câmara dos Deputados garantiu a Michel Temer o direito de cumprir seu mandato até o fim. Mas foi só. Não lhe garantiu os votos necessários para que governe ativamente.
A joia da coroa da curta e tumultuada Era Temer, a reforma da Previdência, por exemplo, não passará pelo Congresso por falta de votos na Câmara e no Senado. Foi o que mostrou ao presidente e aos seus acólitos o mais recente levantamento feito por líderes dos partidos que dizem apoiá-lo.
Cristalizou-se cá fora a percepção de que a reforma prejudicará a maioria dos brasileiros, principalmente os de baixa renda. E dentro do Congresso, a certeza de que o voto a favor da reforma custará muitos votos nas eleições do próximo ano. O governo não soube vender a reforma ao distinto público. Agora é tarde.
Caso sobreviva às novas denúncias que estão por vir, seja por meio da Procuradoria Geral da República ou de delações à Lava Jato, o governo Temer parece condenado a só cumprir tabela. O que precisar de larga maioria de votos no Congresso acabará ficando para o próximo governo. Subirá o preço do ralo apoio oferecido.
Caberá a Temer cumprir o rito de transferência do poder ao seu sucessor. O que está longe de significar que ele terá se tornado um presidente decorativo. A caneta que detém ainda está carregada de tinta. Mesmo que fraco, um presidente ainda pode muito, mais ainda a 15 meses de eleições.
Temer cobrará alto pela adesão do PMDB a candidatos à sua vaga. E é por isso que o PSDB finge descolar-se do governo para acabar permanecendo nele. A digital do governador Geraldo Alckmin foi identificada nos votos do seu partido favoráveis na Câmara ao pedido de licença para processar Temer.
Bastou que Temer declarasse abertas as portas do PMDB à candidatura do prefeito João Dória a presidente da República para que Alckmin voasse à Brasília à cata de melhores informações. E lá, depois de visitar o senador Aécio Neves (MG), aliado de Temer, se convertesse à ideia de que o PSDB não precisa deixar o governo.
Em 1989, o então presidente José Sarney pouco pode influir no destino de sua sucessão. Temer não quer ser um novo Sarney.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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