29 de março de 2024
Veículos

VW Amarok Extreme: peão em dia de baile

VW Amarok Extreme 2017

Durante uma semana e cerca de 350 quilômetros, tive a reluzente picape azul que você vê nessas imagens como companheira. Usei ela tanto nos meus trajetos dentro da cidade e do trânsito, quanto numa pequena viagem para o alto da serra, onde aproveitei até um de seus dotes mais óbvios – a caçamba com o bom espaço que ela oferece – para carregar um fogão.

VW Amarok Extreme 2017 | Henrique Koifman

A Amarok Highline série Extreme é a versão topo de linha da picape de porte médio da Volkswagen e, como tal, traz a bordo uma série de recursos e acessórios para justificar seu posto e, também, seu preço, um tanto impróprio para hipertensos, de quase 178 mil reais. Na prática, é como se ela fosse um peão vestido para um baile, com alma rústica, mas enfeitada para impressionar o pessoal.
Picape com alma de… picape mesmo
Antes de continuarmos nosso papo, acho que vale deixar uma coisa bem clara: diferentemente do que muita gente boa – colegas meus, inclusive – diz por aí, não diria que a Amarok, com ou sem todos esses acessórios, é um luxuoso automóvel de passeio. Tudo bem que, entre suas principais concorrentes – Chevrolet S-10, Toyota Hilux, Ford Ranger, Nissan Frontier e Mitsubishi L-200 – ela possa ser classificada como a mais próxima de um “automóvel comum” para se dirigir. Mas isso é em comparação com as outras picapes, não em relação aos carros. E bastam algumas centenas de metros ao volante dela para perceber isso.

Pra começo de conversa, o som do motor a diesel é bem característico, embora o isolamento seja muito bom e ele só seja escutado de dentro da picape quando as rotações estão mais altas. Do lado de fora, porém, ele é bem audível e mais alto que o dos carros de passeio modernos, mesmo os a diesel. O ótimo câmbio automático de oito marchas, com opção de trocas manuais por borboletas atrás do volante, suaviza bastante o manejo da Amarok. Mas em qualquer manobra, freada, curva ou aceleração um pouco mais forte, as reações do carro são as de um grande utilitário.
Há transferência de peso, inclinação e, principalmente, oscilações totalmente diferentes das que você iria sentir guiando seu sedã, hatch ou mesmo boa parte das SUVs atuais. Não, não há nada de errado nisso e a eficiência de freios, suspensão, motor e câmbio é ótima. Mas se você quer ter um carro grande que se comporte como um veículo de passeio comum, é melhor escolher outra coisa.
Se a ideia é guiar em posição elevada e tirar (só) onda de aventureiro, os SUVs vão vesti-lo mais apropriadamente. A maioria deles é de fato uma versão em estilo desbravador de dóceis automóveis de passeio. Já a Amarok é um carro de trabalho que ganhou belos banhos de tecnologia e de loja, sem perder quase nada de sua personalidade.

Pacote caprichado
O enxoval que a Volks colocou a bordo da Amarok Extreme é um pacote fechado, sem opcionais. E dele fazem parte bancos esportivos que trazem o nome pomposo de ergoComfort, com um montão de regulagens elétricas de altura, distância, inclinação, apoio lombar e do assento dignos – aí sim – de um esportivo de luxo.
Durinhos na medida certa, eles apoiam bem o corpo nas curvas e constantes balançadas do caminho. Balançadas essas que acabam sendo até mais sentidas a bordo do que na versão Highline “comum” do carro. Isso porque a Extreme é calçada com lindas rodas de liga leve de 20 polegadas e pneus de perfil mais baixo, totalmente voltados para o uso no asfalto. Ótimos no visual e nas curvas da estrada, mas um tanto quanto deslocados no fora-de-estrada, eles passam para a cabine todo e qualquer ressalto da pista – e aqui no Rio de Janeiro as ruas andam cheias de remendos e tampões desnivelados.

Boa em caminhos ruins, mas com outros pneus
Se as rodas e pneus não gostam de terra e de lama, os sistemas de tração e assistência adoram um caminho íngreme e ruim. Teclas no console permitem bloquear o diferencial, recalibrar o ABS e gerenciar o câmbio de forma mais reduzida para esse tipo de cenário. E ainda há recursos como o “hill holder”, que não deixa o carro descer de ré quando se parte do meio de uma ladeira.

Rodando na cidade, tirando a vantagem de ser mais respeitado por ônibus e caminhões, o porte do carro atrapalha mais do que ajuda, ainda que não seja desesperador. Ela circula com desenvoltura, as marchas são trocadas com suavidade e la está longe de ser lerda. Boa de manobra e de freios levando em conta seu tamanho e peso de mais de duas toneladas, com boa visibilidade à frente e nas laterais, equipada com sensores sonoros de distância e – graças ao bom Deus – uma câmera de ré bastante funcional, basta ser mais cuidadoso com os outros e sortudo na hora de procurar uma vaga “plus-size” para estacionar que está tudo bem. Em média, medi no computador de bordo um consumo urbano de uns 8 km por litro.
Pela estrada afora ela vai bem contente
Mas é na estrada aberta que a Amarok fica mais interessante e divertida. Fui com ela até Itaipava, o que incluiu um bom trecho de pista plana, reta e bem pavimentada, até o começo da serra e, em seguida, uma subida de traçado antigo, com piso em placas de concreto e curvas fechadas que, hoje, reprovariam seu autor no curso de engenharia.

O ótimo conjunto de motor e câmbio da picape parece adorar esse tipo de coisa e o carro sobe feliz e bem-disposto, deixando para trás uma coleção de carros de passeio menos empolgados. Méritos do motor 2.0 de quatro cilindros a diesel com duas turbinas, que gera 180 cv de potência e quase 43 quilos de torque. Dentro da cabine, quica-se um pouco, mas não chega a ser torturante.
Depois da entrada de Petrópolis, a BR 040 volta a ficar mais civilizada, com velocidades máximas permitidas mais altas e asfalto muito bom. Ali, rodando em oitava marcha, o motor ronrona e o computador de bordo indica um consumo médio que beira os 12 km/l (na subida, ele ficara em uns 6 km/litro).

Fazendo um carreto
Para aproveitar a viagem, transportei um fogão, daqueles mais comuns, de quatro bocas, na caçamba da Amarok. Espaço há de sobra para esse volume, há até uma útil tomada de 12v para ligar lâmpadas ou acessórios, mas senti falta de mais pontos e ganchos para amarração. Há poucos (6 no total) junto ao assoalho e simplesmente nenhum na borda da caçamba.
O bom é que e o piso é revestido com uma espécie de tinta industrial antiderrapante muito áspera faz com que a carga fique mais firme, sem escorregar. Essa pintura também é muito resistente a riscos e substitui com vantagens aqueles protetores plásticos que costumam ser instalados ali. Não tive problemas com isso e o meu passageiro de lata chegou incólume ao seu destino.
O asfalto liso é seu melhor amigo
Em velocidade de cruzeiro de uns 110 km/h a versão Extreme é uma boa sala de estar para se viajar. Os tais ótimos bancos que já mencionamos, em conjunto com os ajustes de altura e profundidade da direção, permitem encontrar uma posição de dirigir perfeita, de onde se tem uma sensação de controle sobre a estrada lá fora.

O sistema de direção, aliás, tem ainda assistência hidráulica, e não elétrica como nos automóveis mais modernos, não que isso faça lá muita diferença em termos práticos num utilitário desse tipo, a não ser, quem sabe, para incluir um daqueles sistemas que mantém o carro na faixa, corrigindo sozinho o volante, como nos VW alemães mais caros.
Tecnologia mais moderna aparece, no entanto, na boa central de multimídia do painel, que vem com toda a conectividade e recursos que se espera em um carro desse preço. De resto, o interior é bem simples, condizente com um carro de trabalho, mas com acabamento caprichado, O espaço para os passageiros no banco traseiro não é lá dos mais amplos, mas não compromete e a boa área dos vidros permite curtir a paisagem.
Prazer de dirigir
No final das contas, mesmo não sendo o tipo de carro que eu teria para usar na minha rotina tipicamente urbanoide, curti bastante os dias com a Amarok Extreme. Tirando os acessórios desta série mais cara, ela é idêntica às versões Dark Label e High Line “comum” que eu já havia dirigido antes, e das quais guardo a mesmo boa impressão.
Entre os carros de trabalho desse porte, é dos melhores que se pode comprar por aqui. Do tipo que você pode usar para carregar peso ou chegar à fazenda sem problemas e que, se tiver de levar a família a bordo, não vai ouvir reclamações. E, pra mim, o melhor de tudo, com prazer de estar ao volante.
A V6 vem aí
Por fim, uma informação importante: para os modelos 2018, que devem chegar às lojas brasileiras no final de 2017, a VW equipará as versões mais caras da Amarok com um novo motor a diesel, de seis cilindros em Vê de 224 cavalos e 56,1 quilos de torque. A nova linha já foi apresentada na Argentina, onde é fabricada. E, claro, deve chegar aqui por preços mais altos que os da linha atual.
Vamos à ficha técnica:
MOTOR
Longitudinal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, diesel, biturbo, 1.968 cc 4
Potência: 180cv @ 4.000 rpm
Torque: 42,8 kgfm @ 1.750 rpm
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,9 segundos
Velocidade máxima: 179 km/h
TRANSMISSÃO E TRAÇÃO
Câmbio automático sequencial de 8 marchas com troca manual opcional no volante; tração integral permanente nas 4 rodas, com bloqueio do diferencial traseiro e função eletrônica de redução.
DIMENSÕES
Comprimento: 5.254 mm, Altura: 1.834 mm, Largura: 1.944 mm, Entre-eixos: 3.095 mm, Bitola dianteira: 1.647 mm: Bitola traseira: 1.644 mm, Vão livre do solo: 240 mm.
PESO E CAPACIDADES
Peso: 2.073 kg
Caçamba: 1.200 litros
Carga útil: 1.017 kg

Fonte: Blog Rebimboca

Henrique Koifman

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

Jornalista, blogueiro e motorista amador.

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