29 de março de 2024
Sergio Vaz

Fantástico: uma notícia positiva na capa do Globo!

A Cruzada para derrubar Temer sofre pequeno baque.
Fantástico: O Globo desta quinta-feira, 22/6, traz na primeira página uma notícia positiva sobre o Brasil sem usar qualquer tipo de adversativa. Que eu saiba, é a primeira vez que isso acontece desde o dia 18 de maio, quando o jornal iniciou sua Cruzada para derrubar o governo e publicou a manchete “Temer é gravado ao dar aval a compra de silêncio de Cunha”.
Manchete, aliás, polêmica, para dizer o mínimo, para não usar outras expressões, tipo mentirosa, já que – conforme se pôde comprovar com a divulgação do áudio da gravação feita por Joesley Batista de sua conversa com Michel Temer – não há ali uma fala que de fato demonstre que Temer deu aval à compra de silêncio de Cunha. Pode-se inferir da gravação que Temer estaria dando aval à compra do silêncio de Cunha – como inferiu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Mas é uma inferência. Não é a verdade dos fatos.
De lá para cá, do dia 18 de maio até hoje, O Globo não havia publicado sequer uma notícia positiva desacompanhada de um mas, um porém, um todavia, um contudo.
Por exemplo: na terça, 20/6, O Globo noticiou na primeira página que “Reforma deve elevar emprego”. “Deve elevar”, caso venha a ser aprovada. Mesmo assim, registra-se a adversativa na pequena chamada de capa: “Analistas alertam, porém, que deve haver perdas para trabalhadores menos qualificados”.
Deve haver uma melhora caso a reforma trabalhista venha a ser aprovada. Mas porém todavia contudo…
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Na segunda, 19/6, a manchete principal do jornal foi “Pacote de bondades de Temer prevê R$ 2 bi para o Rio”. É um pacote de bondades “como tentativa de melhorar imagem do governo em meio à crise política”. Pode ir dinheiro para o Estado do Rio – mas só porque Temer tenta melhorar a imagem do governo.
No dia 14/6, quarta, O Globo deu na primeira: “Com FGTS, varejo volta a crescer”. O título poderia ter sido, por exemplo, “Varejo tem alta de 1,9% em abril”. Usando o “Com FGTS”, diminui-se a importância do crescimento das vendas no varejo. Ah, as vendas aumentaram, mas foi porque liberaram o dinheiro do FGTS. Se não fosse isso, as vendas não teriam crescido.
O texto da chamadinha diz: “Mas analistas acreditam que a recuperação do setor será lenta”.
Houve uma noticia boa. Mas porém todavia contudo…
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No dia 10/6, sábado, a primeira página de O Globo informou que “pela primeira vez em 11 anos o país deve ter deflação em junho”. “Analistas prevêem que a queda de preços será de 0,15%, num reflexo da recessão e da boa safra, que evitou alta nos alimentos.”
Ora, inflação baixa é ótima notícia. O texto da chamada atribui a queda de preços a um fator positivo, a boa safra, e a um fator negativo, a recessão – recessão essa, claro, produzida pelo governo Dilma, não pelo governo Temer, mas vai que dizendo assim pega leitor desprevenido.
Então, qual foi o título da notícia na primeira página? “Recessão derruba a inflação”. Claro, não caberia explicar no título que a boa safra também contribuiu para derrubar a inflação. Muitas letras, não dá pra caber no título…
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No dia 3/6, um sábado, O Globo informou na primeira página que “A produção industrial subiu 0,6%, na maior alta para abril desde 2013.”
Caramba: uma boa notícia!
Calma, calma. Eis a continuação da notícia: “Mas o aumento ocorreu graças a um único setor, o farmacêutico. E, para este ano, analistas veem recuperação frágil.”
O título: “Indústria tem alta, mas frágil”.
Quando tem uma notícia boa, tem um mas, um porém, um todavia, um contudo. Sempre tem um mas porém todavia contudo.
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Manchete de O Globo no dia 2/6, sexta-feira: “PIB tem 1ª alta desce 2014”.
Subtítulo: “Avanço é puxado pela agropecuária e não garante que país saiu da recessão”.
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Acho que já dei exemplos suficientes para demonstrar o que estou dizendo.
Não que haja mentiras nessas adversativas. Não.
Ao contrário da triste manchete do dia 18 de maio, que é no mínimo – repito – uma inferência, todos os mas porém todavia contudo têm razão de ser.
No conjunto, mostram claramente uma tremenda má vontade na hora de dar alguma notícia boa. Indicam nitidamente que se trata de uma campanha, uma Cruzada. Como as Organizações Globo estão em Santa Cruzada para derrubar o governo, tudo o que não querem neste momento é que haja boas notícias na economia.
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Pero que las hay, las hay.
Na quarta, 21/5, o Estadão publicou editorial intitulado “Em jogo, o esforço de um ano”. Como o Estadão não está fazendo campanha, Cruzada, pode se dar ao luxo de opinar sobre a conjuntura de maneira mais clara, mais lógica, sem viés, sem usar todos os dados disponíveis como armas contra o governo.
Então o Estadão afirma que “o Brasil pode perder um ano de trabalho duro, refletido nos sinais de melhora da economia, se a crise política mandar para o ralo o programa de ajustes e de reformas e, muito provavelmente, de controle da inflação”.
E, ao longo do texto, enumera alguns itens positivos que têm surgido, até mesmo nas últimas semanas, apesar de todo o burburinho da crise política elevada à quinta potência após a divulgação espalhafatosa – e até mesmo mentirosa – das denúncias dos irmãos Batista:
* faz um ano que a política econômica mudou de rumo, como bem tem repetido o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn;
* com isso, o risco Brasil caiu pela metade no mercado financeiro.
* depois de dois anos de recessão, há um cenário de estabilização e perspectiva de retomada gradual do crescimento;
* os números do primeiro trimestre mostraram crescimento econômico de 1% em relação aos três meses finais de 2016. Embora esse avanço tenha sido puxado pela agropecuária, também foram observados sinais positivos em outros setores.
* o setor externo vai bem, os investimentos estrangeiros cobrem com ampla folga o déficit nas transações correntes e o volume de reservas cambiais ultrapassa US$ 375 bilhões, constituindo um bom colchão de segurança.
* por enquanto, segundo Ilan Goldfajn, a desinflação continua, as expectativas se mantêm favoráveis e há condições para o Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, continuar afrouxando as condições de crédito.
* em abril, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) foi 0,28% maior que o de março, descontados os fatores sazonais, segundo informação distribuída na sexta-feira, 16/6. Dados parciais coletados até maio continuaram apontando maior dinamismo – e até contratações de pessoal – em alguns segmentos industriais.
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Falta registrar qual foi a boa notícia que foi dada na primeira página do Globo sem – fantasticamente – um mas, um porém, um todavia, um contudo sequer.
O título é “Benefícios irregulares consumiriam R$ 9 bi”. O textinho na primeira página é: “A suspensão de benefícios sociais e previdenciários indevidos levou o governo a economizar R$ 9,32 bilhões em apenas 12 meses.”
É realmente fantástico, é o show da vida: depois de mais de um mês, uma notícia positiva sem adversativa na primeira página de O Globo!

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