19 de abril de 2024
Editorial

A nossa democracia acabou

Foto: O Globo – Arquivo Google

Uma das maiores provas da culpabilidade de Temer tem sido dada pelo próprio presidente. Ao desistir do pedido de suspensão do inquérito e tentar desqualificar o áudio de sua conversa com Joesley, o presidente revela que não possui defesa fiel e segura que possa livrá-lo das acusações. Quando alguém tem convicção de inocência, certamente se apega à verdade dos fatos e com ela se abraça até o fim. Os discursos distorcidos, as artimanhas verbais e as mudanças de comportamento se constituem em provas incontestes de uma defesa frágil e inconsistente.
Com a decisão de Temer de não renunciar, a sociedade teme o que poderá advir. Como escapar desse imbróglio? A OAB apresentou à Câmara pedido de impeachment, por entender que houve crime de responsabilidade. Presidente, não renunciar agravará mais a situação política no Brasil, já tão combalida. Renunciar será um gesto de grandeza para o país e até para o senhor, já tão estigmatizado que é, pelo longo histórico de conchavos, nos bastidores do poder. Reconsidere a decisão. Temos esperança. Errar é humano, mas não há razão para insistir no erro.
Não morro de amores por Temer. Mas gostaria de entender os motivos do presidente da OAB, Claudio Lamachia, a ser tão incisivo no pedido de abertura de processo de impeachment contra o presidente. Por que, da mesma forma, não pediu o impedimento de Lula, quando do mensalão, e não se empenhou no mesmo pedido contra Dilma, supostamente envolvida em casos de corrupção? Parece-me que a ideia é devolver o poder central a algum político do PT, ou a alguém de partidos de esquerda, todos nem um pouco confiáveis.
A corrupção nos três poderes é endêmica há décadas. Hoje, temos certeza que esta crise é bem pior do que a de antes do impeachment de Dilma Rousseff. O governo de Michel Temer está na UTI, em estado terminal e vegetativo. Os governos após o regime de exceção foram tão incompetentes e corruptos que hoje uma parcela considerável da sociedade, a que não viveu tal regime, deseja a sua volta para dar fim a esta corrupção interminável. A nossa democracia acabou!
Todas as ações exóticas foram elucidadas. Fazer parte da chapa que reelegeu Dilma em campanha financiada por caixa dois; nomear e manter ministros e assessores diretos investigados na Lava-Jato; receber empresários investigados em sua residência, pós-expediente, entre outros lapsos, foram atos praticados por ingenuidade patológica de nosso mandatário maior.
Ao ser investigado, Temer nomeia ministro da Justiça um opositor da Lava-Jato, praticando, cinicamente, obstrução da Justiça. Outros foram presos por praticar obstrução. Aos reis absolutistas franceses também tudo era permitido. Dilma tentou a mesma coisa e acabou na guilhotina.

Valter Bernat

Advogado, analista de TI e editor do site.

Advogado, analista de TI e editor do site.

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