23 de abril de 2024
Ricardo Noblat

À espera do novo

Lula máscara (Foto: Arte: Antônio Lucena)

A primeira pesquisa Datafolha aplicada depois da suspensão do sigilo em torno das delações da Odebrecht trouxe duas novidades e confirmou duas suspeitas.
Novidades: Lula cresce nas intenções de voto para presidente e Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece em segundo lugar empatado com Marina Silva (Rede-AC).
Suspeitas: despencam Aécio Neves e Geraldo Alckmin, e aumenta a impopularidade do governo Temer.
Lula reconciliou-se com os 30% do eleitorado que sempre votou no PT. Na pesquisa de dezembro último, oscilara entre 25% e 26%. Se o segundo turno da eleição presidencial fosse hoje, ele só ficaria atrás de Marina ou do juiz Sérgio Moro.
Em compensação, continua sendo o candidato com o maior índice de rejeição. E o seu governo é considerado o mais corrupto da história. (Alegre-se, Dilma!)
Aécio e Alckmin rolam ladeira abaixo e rolarão ainda mais depois de delações que estão por vir. José Serra ficou de fora da pesquisa.
Em dezembro último, 30% dos eleitores disseram ao Datafolha que não votariam em Aécio de jeito nenhum. Agora são 44%.
A rejeição de Alckmin pulou de 17% para 28% e sua intenção de voto caiu de 8% para 6%. É menor que a do prefeito João Dória. Como Dória é menos conhecido, seu índice de rejeição está entre os menores.
Marina registra tendência de queda nos cenários de primeiro turno. A imagem da Câmara e do Senado segue ruim, no seu pior nível desde que o Datafolha começou a avaliá-la em 1990.
Para 58% dos entrevistados, os parlamentares são ruins ou péssimos; para 31%, regulares; e apenas para 7%, ótimos ou bons. A essa altura, a desaprovação ao governo Temer é comparável a do governo Dilma às vésperas do impeachment. (Alegre-se, Dilma!)
Bem, esses são os fatos. Adiante no que eles podem sugerir.
Como um furacão, a Lava Jato varre o canteiro político do país há três anos, arrancando pelas raízes o que parecia estar solidamente plantado e inibindo que por ali germine qualquer coisa, a não ser uma erva daninha batizada de Bolsonaro. O Brasil atravessa uma dura fase de depressão política. A esperança, que em 2002 vencera o medo, feneceu.
O eleitor começa a dar-se conta de que ele, ao fim e ao cabo, foi responsável por tudo quando não soube escolher ou quando escolheu mal.
Tal percepção é mais forte nos grandes centros urbanos, especialmente no Rio de Janeiro, governado nos últimos 22 anos por pessoas envolvidas em casos de corrupção.
A 17 meses das próximas eleições, o eleitor a tudo acompanha perplexo, confuso, triste e indignado.
Está à espera que surja até lá algo de novo. Lula não é o novo que ele deseja. Mesmo para os que o apoiam, ou dizem apoiá-lo, Lula é o velho que, à falta do novo, segue na frente.
Mas o prazo de validade de Lula pode terminar se ele for condenado pelos crimes que lhe imputam e impedido de ser candidato. A esquerda fecha com Lula à falta de outro nome e porque renegá-lo seria renegar seus sonhos e suas lutas.
Entre concorrer mais uma vez e sair da vida pública com uma derrota, e não concorrer por ter virado um ficha suja, a segunda opção seria melhor para Lula.
Preso ou solto, ele se declarará um mártir político vítima de um golpe engendrado pela direita, a mídia e alguns juízes. E como mártir será tratado por aqueles, aqui e lá fora, que o veem como um mito, jamais como um bandido.
Mito é mito – e por ser um, Lula se imagina capaz de sobreviver à delação do ex-ministro Antonio Palocci que cuidou da propina paga a ele pela Odebrecht. E à de Léo Pinheiro, da OAS. E a de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras por indicação do PT.
A conferir em breve.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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