25 de abril de 2024
Ligia Cruz

Terceirização velha e carcomida


O projeto de terceirização que foi aprovado na Câmara nesta semana, não é propriamente uma novidade no Brasil. O projeto, que Michel Temer escolheu para compor as reformas sociais, trabalhistas e previdenciárias, de autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estava engavetado há 19 anos.
O que ganha um contorno diferente é o aspecto legal, que interfere nas leis trabalhistas, na questão do vínculo empregatício e, de quebra, na estrutura arcaica e modorrenta dos sindicatos – os sugadores do dinheiro alheio. Estes devem estar se descabelando – a única parte boa.
Já há no Brasil 12,7 milhões de terceirizados a grande maioria formada por empresas miúdas. A questão colocada agora no debate é que a terceirização pode ser adotada como atividade meio e fim, tanto faz. E mais: quem é “terceirizado” tem que empregar formalmente, via CLT. Aí é que a porca torce o rabo, como se diz.
O placar na Câmara foi favorável ao governo e fez rir, de orelha a orelha, o ministro da Fazenda Francisco Meirelles, para quem não importa que a corda estoure para o lado mais fraco. O resultado será a geração de emprego só para ele; para nós trabalhos temporários e soldos bem mixos, com benefícios parcos jaó são realidade. O capataz da Câmara, o Rodrigo Maia, também comemorou a votação e acha que vai emplacar todas.
Os próximos capítulos serão aqueles que já sabemos: caldo para o exército de advogados trabalhistas que vivem do pró labore e – desculpem os incomodados –, logo abandonam seus clientes ou passam adiante os casos sem perspectivas de ganhos mais interessantes. Os juízes trabalhistas, esses, Deus nos acuda, todo mundo sabe. Aliás, a reforma trabalhista deveria começar pela infindável protelação de casos em que empresas não pagam as ações e devem fábulas aos cofres públicos, na forma de benefícios sociais.
A prática da terceirização tornou-se popular aqui no final dos anos 1980, com a indústria automobilística, embora nos Estados Unidos, tenha começado na Segunda Grande Guerra.
Por estas bandas, mais informalmente, muitas categorias profissionais já convivem com essa prática há tempos, quando tiveram que cair na real diante do sumiço do emprego formal. Quem se sacudiu, logo montou estrutura e passou a oferecer cestas de serviços para suprir necessidades específicas de grandes empresas. Surgiram então muitas pessoas jurídicas de pequenos e médios portes nesse filão.
As montadoras, que passaram a adotar um conceito como filosofia de gestão, buscavam vantagens competitivas, com a garantia da qualidade preservada pela marca em muitas das etapas do processo produtivo e custos mais baixos.
Ou seja, as empresas verticais, que faziam do parafuso às partes plásticas de acabamento, por exemplo, perdiam vantagens com mão de obra caríssima e falta de agilidade para levar seus produtos ao mercado consumidor.
Aquelas que elegeram os seus pares para atuar na linha de montagem alçaram-se ao topo do ranking com vendas mais encorpadas. Ao invés de contratar mão de obra altamente especializada para compor a produção, as fabricantes passaram a terceirizar partes e sistemas, de empresas especializadas.
Essa prática revolucionou a indústria, o mercado de autopeças se profissionalizou, favorecendo as mais bem preparadas e também incrementou o setor de reposição – outro elo da cadeia logística, hoje identificado na área de pós-venda.
Quem entende muito bem essa linguagem e dinâmica toda é o segmento de logística que terceiriza e “quarteiriza” faz tempo. Deu nó? Simples: para administrar e controlar os prestadores de bens e serviços terceirizados foi preciso uma quarta empresa. Vamos parar por aí porque a bola já está bicuda.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

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