19 de abril de 2024
Lucia Sweet

Reflexões sobre o mundo atual

Foto: Arquivo Google

Em janeiro de 2012, a Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede em Strasbourg, na França, decidiu que o clérigo muçulmano radical Abu Qatada, considerado um dos principais líderes religiosos da Al Qaeda na Europa , não poderia ser deportado pela Inglaterra para a Jordânia, seu país natal, onde foi condenado à revelia por ter planejado dois atentados terroristas.
O clérigo, preso na Inglaterra, foi levado a julgamento para ser extraditado. Depois de analisarem cuidadosamente o caso, os Law Lords consideraram que a deportação deveria prosseguir. Foi esta decisão da Suprema Corte inglesa que foi derrubada pela corte europeia de direitos humanos.
Qatada é considerado um fanático perigosíssimo. Terroristas que o apoiavam na África sequestraram Edwin Dyer, um cidadão britânico. Eles ameaçaram executar o prisioneiro caso o clérigo não fosse libertado. O governo britânico não cedeu à chantagem e Edwin Dayer foi brutalmente assassinado. Por isso, o governo e os magistrados britânicos consideraram que manter Abu Qatada no Reino Unido era um risco desnecessário para a segurança dos ingleses, mas os juízes da corte europeia de direitos humanos ficaram mais preocupados com o tratamento que o terrorista iria receber na Jordânia, seu país natal. Segundo seus defensores, o clérigo radical tinha sido injustamente condenado por terrorismo e era apenas um muçulmano zeloso.
Ao ler esta notícia, comentei na época com o Tomaz que essa afronta à soberania de uma decisão da justiça inglesa não iria passar em branco. E não deu outra. Quatro anos depois, num referendo em 23 de junho de 2016, os cidadãos ingleses votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit – uma abreviação de “British exit”. A decisão estremeceu os mercados internacionais e fez a libra inglesa despencar.
Agora em 2017 , o presidente eleito dos Estados Unidos está sob intensa crítica por ter proibido a entrada de cidadãos de sete países nos Estados Unidos, até que haja uma forma mais rigorosa de impedir a entrada de terroristas disfarçados de refugiados. Essa decisão vai ser eficaz? Não sei. Mas vejo com preocupação a falta de alternativas para combater o terrorismo islâmico, ligado ao tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro.
Da mesma forma, Donald Trump prometeu construir um muro entre os Estados Unidos e o México, que por sua vez construiu um muro na fronteira com a Guatemala.
Essa ideia de muro me deixa horrorizada. O mundo que eu sonho é um lugar pacífico e amoroso, sem divisões nem fronteiras. Afinal o mesmo sangue corre nas veias de todos os seres deste planeta, não importa a raça, a religião ou a inclinação sexual. Mas se formos honestos, alguém teria coragem de morar, nos dias de hoje, numa casa sem muro?
Tempos perigosos estes.
PS: Em 2013 a Inglaterra conseguiu finalmente deportar Abu Qatada, depois de um acordo entre a Jordânia e o clérigo radical. Em 2014, segundo a Wikipedia, Qatada foi absolvido das acusações contra ele. Mas em 2015, numa entrevista à revista Al Risalah, Abu Qatada disse que era obrigado a se posicionar contra o Estado Islâmico pelas atrocidades cometidas contra muçulmanos, especificando que ele não incluía nessa sua censura americanos e ocidentais, que ele considerava inimigos de Allah.

Lucia Sweet

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

Jornalista, fotógrafa e tradutora.

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