28 de março de 2024
Ricardo Noblat

Se Temer cair, Fernando Henrique Cardoso defende eleições diretas

2015_855563019-2015100510815-jpg_20151005Fernando Henrique Cardoso (Foto: Leo Martins)

Em entrevista, ontem à noite, no programa “Diálogos”, do jornalista Mario Sergio Conti, na GloboNews, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a comparar o governo de Michel Temer a uma “pinguela” (ponte frágil, improvisada).
Perguntado se aceitaria se apresentar ao Congresso como candidato a presidente se Temer cair a partir de 1º de janeiro, o ex-presidente respondeu:
– Prefiro acreditar que isso não vá acontecer. Faço todo esforço para que não haja a queda de Temer. (…) Mas se a pinguela cair, o Congresso terá de convocar eleições diretas. Porque é difícil governar nessa situação de escolha indireta pelo Congresso.
Manda a Constituição que o Congresso eleja o sucessor de Temer se ele morrer, renunciar ou for deposto a partir de 1º de janeiro. Para que haja eleição direta, o Congresso teria que mudar a Constituição, o que exigiria três quintos dos votos de deputados e senadores.
Fernando Henrique é a carta na manga do PSDB e de empresários ligados ao partido para substituir Temer numa eventualidade. Isso se tornou público em artigo recente de um ex-auxiliar dele publicado na Folha de S. Paulo. Temer não gostou do que leu, mas nada disse.
Na entrevista a Conti, o ex-presidente defendeu a legitimidade de Temer para governar:
– O presidente Temer tem legitimidade porque foi eleito vice-presidente, mas foi eleito. Muita gente pode não ter consciência disso, mas é legal. Pode-se discutir o impeachment e tal, mas Temer é legítimo ali na presidência.
O que Fernando Henrique disse sobre a convocação de eleição direta para a escolha de um novo presidente em nada ajuda Temer na hora em que ele mais precisa de ajuda. A tese pode estar certa, mas pregá-la a essa altura enfraquece o governo que o PSDB diz apoiar.
Temer se equilibra sobre um fio cada vez mais frágil. A economia não responde às medidas adotadas até aqui por seu governo. Sua popularidade é baixa. E o estilo excessivamente conciliador do presidente é responsável por sucessivas crises políticas.
Embora timidamente, os panelaços voltaram a ser ouvidos, anteontem, em algumas cidades em protesto contra a decisão da Câmara dos Deputados de desfigurar o pacote anticorrupção do Ministério Público, subscrito por dois milhões e meio de brasileiros.
A delação de executivos da empreiteira Odebrecht atingirá cerca de 200 políticos, entre eles ministros de Temer. Há nuvens pesadas no horizonte. E nenhum sinal por enquanto de que eles se dissiparão em breve.
Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *